Wikinativa/Guilherme Silva Lamana Camargo (vivencia Guarani 2019 - SMD - relato de experiência)

Nome: Guilherme Silva Lamana Camargo Número USP: 10258282 Gestão de Políticas Públicas

Relatório Final Viagem de Campo Este relatório refere-se a disciplina de Seminário de Políticas Publicas Setoriais III e sua viagem de campo. Meu interesse por tal disciplina está relacionado a compreensão da cultura indígena e quebra de paradigmas que hoje são estabelecidos pela própria sociedade, acredito que em um processo de um gestor de políticas públicas é importantíssimo que não se tenha pré-conceitos e que entenda essa cultura, que também diz diretamente sobre nós mesmos e nossa história, por isso, é importante o resgate histórico, cultural e social dos povos que estavam dentro dessas terras, que sofreram com invasões, posses e hoje são atacados diariamente.

A viagem de campo foi realizada nos dias 15, 16 e 17 de novembro, na reserva indígena Tupi Guarani do Rio Silveiras, foi composta por estudantes da matéria de diferentes cursos e convidados, os quais foram por meio de ônibus da universidade. A reserva está situada na região litorânea de Bertioga. A viagem pode proporcionar uma troca muito rica, em um ambiente de tranquilidade e agradável, o qual foi essencial para desconexão da rotina metropolitana, agitada e acelerada de São Paulo.

A viagem teve uma duração maior por conta do feriado do dia 15 e proximidade ao feriado do dia 20, o qual permitiu que muitos trabalhadores emendassem e aproveitassem para irem até a praia e, por isso, a viagem teve uma longa duração, neste tempo, vale uma observação, seria importante que tivesse alguma parada ou mesmo distribuição de frutas ou outros alimentos, ouvi muitos dizendo que estavam com muito fome. A viagem teve duração de quase 6 horas e ainda houve o tempo de deslocamento até a EACH, fazendo com que pessoas tivessem se alimentado por um bom tempo atrás da chegada a reserva, mesmo com a distribuição de um lanche e fruta no ônibus.

Na chegada a reserva, pela hora tardia algumas programações tiveram de ser alteradas e a janta teve de ser preparada, alguns alimentos foram distribuídos por conta da fome dos alunos. Por conta da hora e horário que o jantar estava pronto, foi distribuído uma alimentação rápida para que possamos participar da reza e depois jantar.

Cabe uma percepção acerca dos lanches distribuídos, estes estavam embrulhados com um plástico e um papel, isso talvez não tão sustentável para o número de lanches, seria legal repensar acerca disso e formas mais viáveis e sustentáveis.

A casa de reza é ponto importantíssimo para a comunidade, está localizada em um local meio que de forma central a aldeia, para acesso deles, não existe uma hora específica, mas é sinalizada seu início diante a comunicação do Pajé.

Aqui vale outra observação, o pajé está presente dentro de uma hierárquica indígena, ele possui vocação para tal e vai demonstrando ao longo de seu crescimento, não é preciso que seja um homem. O Pajé é de representação de toda reserva, contudo, possui outra figura, a do cacique, o qual é aquele que promove a cultural e representa politicamente eles, este, cada comunidade possui o seu, mas, mesmo assim, ainda tem um de representação geral.

Voltando ao momento da casa de reza, aí pode se ter uma experiencia primaria com a cultura, a reza tem suas altas simbologias e tradições. Homens ficam de um lado e mulheres de outro. Esse momento é cercado de simbologias e forças, o qual me trouxe muita admiração e respeito naqueles momentos, um dos pontos chaves deste momento também é a musicalidade, é cercada de canções que são reproduzidas por instrumentos naquele local e possui grande força nas vozes das mulheres. A grande energia daquele local para mim estava expresso no altar, o alto respeito, devoção e tradição me trouxe muita atenção, eles possuem um altar no qual fazem referencia a quadros elaborados por eles de lideres passados, no altar estavam quadro de dois líderes, um dos tupi e outro dos guarani e eles passavam a todo momento em frente do mesmo realizando uma devoção.

A reza foi um momento muito importante e forte para mim, por trazer grande limpeza, energia e força à comunidade, são tradições não inventadas hoje ou um tempo passado próximo, é uma tradição muito antiga e passada de geração em geração, deu para notar a inclusão, respeito e seguimento dos novos nestes gestos.

	Com isso, tivemos o momento da janta com alimentos diversificados e diferentes dos usuais em minha alimentação. Cabe uma observação aqui acerca da alimentação, pude notar e me reconhecer com novos hábitos e sanar uma dependência própria minha de comidas que acreditava ser essencial em meu cotidiana, foi importante quebrar tais paradigmas de alimentação e aproveitar outras coisas como formas mais sustentáveis. Mas, também vale ressaltar que talvez seria legal a disponibilização de comidas em diversos momentos para que não houvesse muito espera ou fome, vi alguns passando por tais momentos e se refugiaram na comida que havia levado, um salgadinho, bolacha, etc. e eu preferi tentar me libertar no sentido alimentício e sustentar sob novos alimentos e quebrar padrões.

Após tudo isso, fomos dormir e no dia seguinte, tivemos um café da manhã logo cedo e depois uma saída à cachoeira. Acredito que esse momento pudesse ter maior indicações e avisos, saímos na estrada de terra a princípio sem ninguém que conhecia e isso nos causava uma estranheza sobre o caminho correto, após uma caminhada, o grupo apareceu nos guiando. Essa ida à cachoeira também esteve contemplando uma passagem a outra região da reserva com uma fala do cacique Adolfo representante local de toda comunidade, o qual nos expressou uma ideia bem presente de vontade de reaproximação da comunidade à cultura indígena, os quais foram perdidas por conta da chegada de supostas modernidades e que fizeram um distanciamento do contato natural. Nesse momento de ida à cachoeira também houve o plantio de diversas mudas de plantas da região e que hoje estão em casos críticos, estas foram plantadas, principalmente, na região original de onde a aldeia estava localizada. Após isso, fomos à cachoeira, foi possível aproveitar com o sol, uma água tranquila e um ambiente agradável de grande reflexão.

Voltando para a aldeia tivemos o almoço e realizamos brincadeiras com as crianças, fui do grupo de jogos e brincadeiras, foi possível perceber que as crianças chegando aos poucos e não precisavam de muitas orientações, os bambolês e as bolas puderam proporcionar grandes momentos com eles, com grande ligação e felicidade, havíamos programados algumas atividades, que até ocorreram, mas que por muitas vezes acabavam se tornando uma recreação livre de acordo com a vontade deles e que achei fundamental para que possamos respeitar seus espaços e realmente fazer uma aproximação.

Mais ao final da tarde novamente tivemos a reza, esta foi algo mais forte, o que já havia sido avisada, possuiu momento de rituais de cura e energização – achei que nesse momento pudesse haver alguém orientando na entrada e início, pois ficamos com duvidas e receosos por não saber como iniciava e se tinha alguma tradição que poderíamos não fazer e desrespeitar, seja na entrada, local para sentar ou o que fazer lá – e foi muito importante para compreensão e ajuda à todos aqueles que estavam naquele momento, pareceu ter uma duração maior, mas que não foi muito sentido, estive muito envolvido por aquilo. Também tivemos várias falas e conversas.

Após isso, tivemos a janta e fizemos uma fogueira, achei um momento muito especial por podermos trocar muito entre a gente também, não havia alguém que fosse tão próximo de mim lá e foi interessante conhecer, conversar, cantar e se divertir com todos naquele momento.

No último dia acordamos cedo novamente e já havia um gosto de satisfação e saudade em mim, tivemos o café da manhã e uma ida à praia também. Na volta, realizamos algumas brincadeiras planejadas antes ao almoço e organizamos nossas coisas para a volta, o que ocorreu logo após o almoço.

A volta teve uma duração menor e voltei muito agradecido por ter participado de um momento daquele, pude ter uma experiencia incrível, a qual não esquecerei, e um conhecimento de origens muito grande, além de uma integração com uma cultura que está em nossas raízes.

Com toda certeza tal experiencia foi importantíssima para mim e respeitarei e terei muita admiração por toda cultura indígena e simbologia que encontrar com conhecimentos ainda maiores do que aqueles adquiridos ao longo do semestre e tal experiencia é fundamental para um gestor de politicas publicas dentro do brasil, em um território que foi invadido e se realizou grandes brutalidades quanto a cultura daqueles que aqui estavam presentes.