Wikinativa/Laura Policarpo Lima (vivencia Guarani 2018 - relato de experiência)
MEU RELATO - VIVÊNCIA GUARANI (Laura Policarpo - 10347274)
Antes de chegarmos a ir para aldeia mesmo com o aprendizado e conhecimento conforme foram passando as aulas, tentei me desvincular de imaginar como seria e o que eu faria na vivência (tirando as atividades já pré estabelecidas), para tentar me inserir e absorver melhor as mais diversificadas experiências e situações, e acredito que com isso consegui me permitir a ter uma experiência diferente de como teria sido caso eu já tivesse expectativas.
Nossa chegada na quinta-feira à noite já foi um choque não esperado para muita gente, inclusive comigo começando já ao descer do ônibus com uma chuva forte e toda lama já subindo pelos pés. Por conta da chuva não conseguimos montar as barracas e nos foi permitido ficar na casa de Reza da aldeia o que este simples fato já me trouxe o sentimento de ser bem-vinda ali de uma maneira que não tinha sentido antes, com isso assistimos a primeira Reza e fomos dormir.
Cada dia da vivência teve suas particulares, principalmente pelo fato de o meu grupo não conseguir executar as atividades planejadas de construirmos uma estufa ecológica com plantas medicinais e árvores frutíferas, fazendo com que conseguíssemos experimentar e observar de tudo um pouco do que ia acontecendo ao nosso redor. Fazendo com que pelo menos a minha vivência tenha sido mais observatória e reflexiva do que ativa mesmo ajudando em outras atividades que ocorriam na aldeia, mas que me deixou com um sentimento de querer voltar e poder realizar muito mais.
Um dos 3 pontos marcantes da minha vivência que eu gostaria de compartilhar foi logo na sexta à noite após a reza onde fiquei um pouco encostada observando as estrelas e um dos moradores da aldeia veio falar comigo e perguntou o que eu estava vendo, e disse que antes de responder eu teria que pensar muito bem, e depois me explicou que não estava vendo apenas estrelas e sim histórias e momentos que já aconteceram, e ele me falou isso de um jeito tão tocante que foi quando comecei a sentir e entender melhor a relação íntima dos indígenas com a natureza, algo que se um dia o homem branco teve, há muito se perdeu assim como sua simplicidade.
O segundo ponto foi após as trilhas onde pela primeira vez experimentei o rapé e aquilo me trouxe um sentimento de conexão com tudo ao meu redor, por simplesmente “limpar” o que tinha na minha mente e no corpo de modo mais espiritual e após essa experiência à volta para aldeia foi totalmente diferente já do tempo que estávamos ali, e á noite depois da reza e quando os índios foram falar com a gente e nos trazer para experimentar o palmito feito na fogueira o sentimento de estar com eles já não era mais de estar ali por pura visita, mas estar ali como família.
O terceiro ponto é basicamente um aglomerado de todos os outros dias com seus pontos marcantes que resume a experiência em todos os dias na casa de Reza com o sentimento sincrônico de quem ia ao meio para cantar e dançar, e também das discussões sob o contexto que estamos vivendo e como isso afeta e provoca mudanças drásticas na cultura deles, e fora dela com as atividades na aldeia, um dos acontecimentos que me trouxe uma reflexão diferente das que eu nunca tinha tido antes foi quando vieram os turistas motoqueiros e perto de irem embora eles começaram a distribuir livrinhos de salmo para nós e para os índios e aquilo me deixou tão desconfortável que tive que sair dali, algo que mesmo enquanto estou na cidade já me aconteceu várias vezes de receber esses livrinhos, na aldeia me afetou de um jeito que foi como se eles estivessem me invadindo e não me respeitando, e me fez refletir o quanto a causa indígena deve sofrer mais profundamente quando vem visitantes com premissas de ajuda pontuais (no caso em questão de ter sido dia das crianças) mas em troca tentam mudar ou influenciar um pouco que seja na cultura e crença deles. Mas o Pagé conseguiu contornar a situação sendo muito educado e desviando esse assunto com os demais turistas que ali estavam. Analisando essa situação brevemente como uma estudante de lazer e turismo consegui perceber e distinguir os diferentes impactos e relações de uma atividade turística que muito acontece não somente ali na aldeio do Rio Silveiras mas ao longo do nosso país, onde acredito que o que falta é um planejamento e também uma preparação de quem vai visitar para efetivamente contribuir com algo e não apenas utilizar e ir embora, essa experiência vivida na aldeia veem me permitindo analisar como estudo de caso na faculdade sobre como a atividade turística pode ajudar as melhores condições e na disseminação da causa e luta indígena mas também como podemos minimizar os impactos do choque de cultura despreparado dos turistas em relação as crenças e convivências.
De mais o que trouxe dessa vivência comigo foi um aprendizado de que na verdade nós conseguimos ajudar a aldeia mas que eles nos ajudaram ainda mais em âmbitos que antes nem considerava pertinentes para simplesmente viver. Na aldeia aprendi tudo de novo, a andar, a ouvir, a falar e principalmente a sentir a minha relação comigo mesma, com a natureza e com o próximo, mas não tratando todos esses aprendizados de modo diferentes, mas sim em concordância. Após à volta para casa me engajei mais com a causa e procuro refletir mediante todos os privilégios que temos aqui e como vivemos aqui e a falta de alguns dele como saneamento e o quão diferente são as atitudes das pessoas em relação a isso, o quanto se deixam afetar por pouco ao invés de lutar para ajudar o outro e é isso que após a vivência eu quero começar a fazer com mais afinco.