Wikinativa/Lazer (vivencia Guarani 2018)
Grupo:
- Andreza Ruiz N.º USP: 9894283
- Isadora Melo N.º USP:
- Natália Breda N.º 10282964
- Polliana Calu N.º USP: 10799484
- Rodrigo Ferrari N.º USP: 10725400
- Valéria Rie N.º USP: 8641768
- Vinicius Cavalcante N.º USP:
- Yngrid Teixeira N.º USP: 10725460
INTRODUÇÃO
editarA aldeia Rio Silveiras localiza-se entre os municípios de Boracéia e São Sebastião. Atualmente, conta com uma população média de 600 indígenas, dentre eles, Guarani e Tupi, e está localizada dentro do Parque Estadual da Serra do Mar, cuja área regularizada é de 984,4 hectares (FUNAI). Por estar inserida em uma área de preservação ambiental (Mata Atlântica), a população consegue preservar sua cultura e língua materna, embora ainda sofram com o desenvolvimento urbano das regiões próximas (causa a especulação imobiliária) e com a alta interação com os Juruás (“não indígenas”, em Guarani). Tal interação é boa na medida que proporciona certas comodidades para a população, mas também traz malefícios, como por exemplo, hábitos alimentares não saudáveis que acarretam em problemas de saúde para eles, além da necessidade de gerar renda na comunidade para que consigam comprar itens necessários ou fazer a manutenção de algum equipamento (eletricidade, por exemplo).
No que diz respeito às pessoas que alí habitam, pudemos notar que são bem felizes, inclusive, nos dias da vivência, não vimos nenhuma criança chorando ou alguém brigando. Além disso, a coletividade também é uma característica da comunidade, pois desde os momentos de lazer até os de trabalho, as atividades eram realizadas de forma coletiva. Outro ponto é a alegria encontrada na simplicidade, isto é, com um dia a dia bem tranquilo e com alta interatividade entre os membros da aldeia, a população consegue viver de forma feliz, leve e tranquila. Por último, eles não estão preocupados em seguir um cronograma específico para realizar determinada tarefa, tudo ocorre de forma natural e como deveriam ser de fato; e isso trouxe uma inquietação inicial ao grupo que foi para a vivência com um cronograma de atividades previamente definidas, mas que não ocorreram da forma com que haviam sido planejadas. Então, quando o grupo notou essa dinâmica da comunidade indígena, conseguiu-se aproveitar bem mais o momento com as atividades e com as crianças. A seguir, encontram-se mais informações sobre as atividades do grupo.
DESENVOLVIMENTO
editarO planejamento de atividades recreativas
editarA ideia central do grupo era montar blocos de atividades (incluindo, brincadeiras indígenas e não indígenas) que ocorressem de forma simultânea, durante os três dias da vivência, sempre no período da tarde. Na quinta-feira, 11/10/2018, por ser o dia da chegada, pensamos que seria legal fazer uma seção de alongamentos com o intuito de que todos pudessem relaxar o corpo para as atividades do dia seguinte. Contudo, essa atividade não acabou acontecendo, pois chegamos de noite, estava chovendo e já fomos direto para a casa de reza, concluindo a noite com um jantar depois que saíssemos da reza. Já no dia seguinte, 12/10/2018, após um breve alongamento, a ideia do grupo era montar grupos de diferentes brincadeiras e, assim, cada integrante ficaria como monitor de uma atividade. Inicialmente dividimos a programação em três partes.
A primeira delas, era composta pela brincadeira da Mamãe Galinha (consiste em desenhar um retângulo no chão e uma pessoa no meio desse espaço delimitado, para tentar encostar nas pessoas que estiverem atravessando de um lado para o outro. O objetivo é que quem esteja no meio consiga ir pegando cada vez mais pessoas que passarão a ajudá-la), Brincadeiras livres (consistia em um espaço para a criança decidir com qual brinquedo jogar. Dentre as opções, encontravam-se: bambolês, amarelinha e corda) e Arrancar Mandioca (consiste em alguma pessoa se prender a uma estrutura e as outras tentarem tirá-la de lá). O segundo bloco, era composto pelo famoso Cabo de Guerra, Corrida do Saci (correr com um pé só) e a Mãozinha e Pezinho (consiste em fazer uma roda e uma pessoa tenta se movimentar para encostar na outra e assim por diante). Por fim, o último grupo de atividades, era composto pela Corrida de Tora (correr poucos metros carregando uma tora), Arco e Flecha, Corrida com Saco e Peteca.
É interessante ressaltar que estas brincadeiras consistiam em um planejamento prévio que o grupo realizou, contudo, quando estávamos lá, algumas dessas brincadeiras não ocorreram (nem mesmos os blocos foram divididos) conforme o planejado, porém, ainda sim houve uma tarde repleta de atividades e as crianças puderam aproveitar bastante. No último dia de atividades, 13/10/18, o grupo havia planejado iniciar com alongamentos para aquecer e, posteriormente, dar início às brincadeiras, sendo elas, Brincadeira da Selva (consiste em cada pessoa escolher qual animal deseja ser e, a partir daí, o imitaria), Corrida do Sapo, Brincadeiras Livres, Futebol, Vôlei e Queimada. Contudo, devido ao tempo de chuva, as atividades não aconteceram. A tabela abaixo mostra quais seriam as brincadeiras destacadas de acordo com o dia.
Quinta-feira (11/10/2018) | Sexta-feira (12/10/2018) | Sábado (13/10/2018) |
---|---|---|
Alongamento e relaxamento para dormirmos bem | Alongamento para iniciar as atividades | Alongamento para iniciar as atividades |
BLOCO 1 | Brincadeira da Selva | |
Mamãe galinha | Corrida do Sapo | |
Brincadeiras livres: bambolê, amarelinha e corda | Brincadeiras livres: bambolê, amarelinha e corda | |
Arrancar mandioca | Futebol | |
BLOCO 2 | Vôlei | |
Cabo de Guerra | Queimada | |
Corrida do Saci | ||
Mãozinha e Pézinho | ||
BLOCO 3 | ||
Corrida de Tora | ||
Arco e Flecha | ||
Corrida do Saco | ||
Peteca |
Fonte: elaborada pelos autores.
Materiais necessários para as atividades:
- Rolo de barbante grande;
- 5 Bambolês;
- 6 metros de corda;
- 6 petecas;
- 4 sacos de batata de fibras;
- 1 bola pequena pra queimada;
- 1 bola de futebol;
- 1 bola de vôlei;
- Cocos pra fazer zigzag do circuito.
A execução de atividades recreativas
editarA realização das atividades não saiu como o planejado devido a fortes chuvas que caíram no local, deixando o terreno muito lamacento e atoladiço, impedindo que o cronograma fosse seguido a risca, porém, conseguimos aplicar parte das atividades apenas em um dos dias.
Na sexta feira, segundo dia da vivência, dia 12 de outubro - dia das crianças; crianças de todos os núcleos vieram para o núcleo da porteira, onde nós estávamos acampados, para receber alguns presentes. Aproveitamos o momento e a trégua das chuvas para fazermos as brincadeiras que estavam planejadas. Como não sabíamos se teríamos outra oportunidade, decidimos aplicar o maior número de atividades que conseguíssemos de acordo com o momento, procurando sempre deixar tudo leve e sem imposições. A tabela a seguir mostra quais atividades foram e não foram executadas.
Brincadeiras executadas | Brincadeiras não executadas |
---|---|
Mamãe galinha | Alongamentos |
Brincadeiras livres: bambolê, amarelinha e corda | Arrancar mandioca |
Cabo de Guerra | Mãozinha e Pézinho |
Corrida do Saci | Corrida de Tora |
Corrida do Sapo | Arco e Flecha |
Corrida do Saco | Brincadeira da Selva |
Peteca | Futebol |
Vôlei | Queimada |
Cidade Dorme (brincadeira nova inventada por causa do contexto de chuvas) |
Fonte: elaborada pelos autores.
As brincadeiras foram realizadas conforme a demanda de crianças e de acordo com a vontade do grupo, tudo ocorreu de forma natural. Primeiro pegamos a corda, as crianças se animaram muito e começaram a pular. Distribuímos os bambolês que havíamos comprado, junto com as petecas e alguns peões, sendo assim, essas foram as primeiras brincadeiras. Logo em seguida, começaram um cabo de guerra com a corda; ao mesmo tempo, delimitamos um espaço com os cocos que havíamos levado, para fazer a linha de partida e de chegada das brincadeiras: Corrida de saco, corrida de saci e corrida de sapo. Depois, brincamos de Mamãe Galinha e volêi. A amarelinha foi montada durante essas brincadeiras, junto com algumas crianças que estavam por perto.
Brincamos durante a tarde toda, fazendo apenas uma pausa, para as crianças receberem os brinquedos doados por uma organização religiosa, que visitou a tribo no dia. No finalzinho da tarde, as crianças foram se dispersando, para tomar banho e guardar os brinquedos que haviam ganhado. Foi neste momento que brincamos de algumas brincadeiras de roda e cidade dorme, apenas com os próprios alunos da matéria, sendo um momento muito gostoso para nos conhecermos melhor.
No sábado choveu muito, impedindo que nosso planejamento fosse executado. Após o almoço ficamos brincando de cidade dorme dentro da antiga casa de reza, também apenas com alguns alunos da matéria, devido ao fato de nenhuma criança aparecer e a forte chuva. Mesmo não cumprindo nosso cronograma por inteiro, as atividades realizadas foram muito bem sucedidas, ninguém se machucou, não houveram brigas e todos nós nos divertimos e aprendemos muito.
Relatos pessoais
editarAndreza: A forma como as coisas aconteceram na vivência foram muito mais naturais do que o planejado. Tínhamos em mente horários e planejamentos, mas a vida real nem sempre é tão utópica como nós pensamos. Nós não esperávamos dias chuvosos, mas aconteceu, e todo o planejamento se resumiu em nossas vontades naquele momento das brincadeiras, deixando tudo espontâneo e divertido. Gostei muito da forma como lidamos com os imprevistos e como conseguimos lidar com a frustração de não ter saído como tínhamos planejado. No final tudo deu certo, e considero uma das experiências mais incríveis da minha vida.
Yngrid: As brincadeiras ocuparam um espaço importante na sexta-feira de nossa vivência, na verdade, elas surgiram sem que ninguém percebesse muito bem o que estava ocorrendo. Também por conta desse fato, eu não senti em nenhum momento um engessamento do que eu deveria fazer ou de onde eu deveria estar, apenas tentava participar de tudo, tentando absorver ao máximo tudo aquilo. Primeiramente foi proposto que pulássemos corda, o que desencadeou todas as brincadeiras oferecidas depois disso, como a amarelinha, corrida de saco, vôlei, peteca e futebol. Acredito que não tenha sido coincidências as brincadeiras acontecerem naquele momento e de maneira tão inesperada, já que nos outros dias, com a chuva, não conseguimos mais propor outras atividades. A experiência foi sobretudo gratificante, foi gratificante interagir com as crianças justamente no dia em que nós, juruás, comemoramos o dia das crianças e foi gratificante interagir com pessoas que estão o tempo todo nos mesmos ambientes que eu, mas que por diversos motivos nunca houve uma interação anterior.
Natália: Interessante notar o quanto, em geral, temos a necessidade de planejar tudo que desejamos realizar. Contudo, durante a nossa vivência, a maioria das coisas que foram planejadas, ocorreram de forma não esperada, mas, ainda sim, aconteceram como deveriam acontecer. Por exemplo, nosso grupo de lazer conseguiu realizar as atividades apenas na sexta-feira e que ocorreram de forma espontânea e natural, fazendo com que todos se divertissem ainda mais. Enquanto brincávamos de pular corda, corrida do saco, bambolê, pega pega, entre outras que foram efetuadas, podíamos ver a felicidade e energia das crianças, que, na minha opinião, fez valer muito a pena nossa imersão. Então, o desapego de um cronograma e o estado de espírito de viver o momento, foram duas grandes lições que pude aprender durante a vivência.
Valéria: como já abordado, cerca de duas semanas antes da vivência, sentamos e planejamos todas as atividades e gincanas que iríamos executar com a comunidade. Porém, nos bastidores do universo nada sai como o planejado. Mas, no geral, eu fiquei muito feliz que o grupo conseguiu lidar com os imprevistos e as atividades ocorreram de maneira natural e interativa como deveria ser.
CONCLUSÃO
editarDuas semanas antes da vivência, o grupo realizou encontros para estruturar a programação de lazer e a definição dos materiais necessários para executá-la. A ideia central era montar blocos de atividades (incluindo, brincadeiras indígenas e não indígenas) que ocorressem de forma simultânea, durante os três dias da vivência, sempre no período da tarde. No entanto, o contexto de chuvas impediu que pudéssemos realizá-las da forma como prevista.
O grupo planejou um conjunto de atividades para termos uma programação diversificada que envolvesse todos os presentes que desejassem se divertir. Para tanto, os integrantes assistiram vídeos no Youtube para aprender as brincadeiras indígenas e as não indígenas muito comuns também foram incorporadas no processo de planejamento.
Em linhas gerais, o grupo considera muito positiva a experiência, pois interagimos de forma natural com a comunidade, sobretudo na sexta-feira, 12.10.2018, dias em que nós, juruás, comemoramos o Dia das Crianças. Conseguimos observar que os dias são à prova de planejamento e contrariam todas as nossas expectativas, pois, por mais que tenhamos ensaiado nossa fala e estejamos preparados para a melhor cena, nos bastidores do universo alguém troca os nossos papéis de última hora, tornando a vida orgânica e surpreendente (MEDEIROS, Martha. “Enquanto isso, nos bastidores do Universo”. Rio de Janeiro: Revista O Globo, 21 de junho de 2015).
Por fim, gostaríamos de deixar uma tabela com os principais aspectos da vivência que pode servir para as próximas vivências pensarem suas atividades de lazer e recreação com a comunidade.
Forças | Fraquezas | Oportunidades | Ameaças |
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O grupo se manteve unido, contornando todos os imprevistos e interagindo de maneira lúdica e natural com a comunidade. | O grupo não pensou em atividades alternativas que poderiam ser realizadas em tempos chuvosos, característica desta região neste período do ano (outubro). | Durante toda a vivência a comunidade se mostrou muito receptiva às brincadeiras e gincanas indígenas e não indígenas, sobretudo as crianças. Então, tenham a garantia de que público para as atividades não irá faltar. | Tendemos a achar que a chuva é uma ameaça, mas não é. É só a vida e o universo agindo de maneira orgânica. Tenham em mente a possibilidade de dias chuvosos e organizem atividades alternativas caso este cenário se confirme. |
Fonte: elaborada pelos autores.