Wikinativa/Ludmilla Guedes Veigas (vivencia Guarani 2019 - relato de experiência)
Turismo e a Aldeia Quem nos recebeu para falar um pouco sobre o turismo foi o Cacique Mariano, informando a participação de turistas dentro da Aldeia, como fonte de renda e troca de cultura entre os moradores do local. Os indígenas da aldeia fazem artesanato e pinturas para arrecadar alguma fonte de renda para toda a comunidade. Doações de roupas, dinheiro e comida são bem aceitas e quando recebidas, são partilhadas entre eles em partes iguais. O mais importante, é que os próprios indígenas se organizam para receber os turistas que tem dia certo para chegar. No núcleo em que ficamos alojados, tinha uma cozinha comunitária, onde era servido o café da manhã com café preto e tipá (massa de farinha de trigo, água e sal), frito, podendo ser assado também, a comida era simples mas bem feita. As casas são feitas de pau a pique e cobertas com palha, algumas eram feitas de madeira, a comunidade tem acesso à água potável, e na aldeia existem algumas duchas de água fria para se banhar, e um banheiro de ducha quente. Neste núcleo também podemos encontrar uma casa de reza que comporta 200 pessoas, é neste local que a mágica acontece, toda a cultura ancestral é relembrada por eles, através de seus rituais, mulheres sentam de um lado, os homens de outro. São tocados alguns instrumentos como violão e batuque, chocalho e bambus são batidos no chão pelas mulheres; fuma-se cachimbo e a casa fica escura iluminada por algumas velas acesas. O Pajé é responsável pela condução do ritual e por algum tempo era proibido a entrada de não indígenas dentro da casa de reza, e hoje podemos entrar e participar junto com eles, o que é emocionante de viver e sentir, algo indescritível. Na escola da aldeia é ensinado português, eles têm acesso a internet e a tecnologia que nos rodeia também. Muitos relatos sobre a necessidade de aprender, estudar para poder trazer o conhecimento para dentro da aldeia, como forma de proteção também, para poderem lutar pelos direitos dos indígenas, devido aos ataques que sempre tiveram sobre o modo de vida e até a ignorância do povo da cidade. No relato do Cacique Adolfo, a formação de indígenas nas universidades é importante, mas eles sofrem quando precisam se afastar da aldeia, pelo modo de vida diferente, comida, poluição, o fato de ter hora para fazer tudo. Muitos indígenas voltam para a aldeia pois,muitos não se adaptam ao modo de vida da cidade. As trilhas para as cachoeiras são bem tranquilas e a nossa caminhada foi em conjunto com os moradores e crianças que corriam descalças no meio da mata, brincando e sorrindo. O clima é de amor, simplicidade e partilha. (Fotos da entrada do núcleo e acampamento). Relação da disciplina com a vivência/ Visita com a ONG AUPI dia 01/11/2019 A disciplina do Professor Jorge desde início me surpreendeu, falando como parte de um grupo de alunos, pudemos ouvir relatos de indígenas de várias localidades, e saber um pouco mais sobre a realidade de cada aldeia, núcleo e as diferenças entre eles. Foi de grande importância para minha vida pessoal e acadêmica fazer parte de tudo isso. Pude absorver tanta conteúdo e perceber mais uma vez que não sabemos nada, diante dos povos originários, diante de uma das conversas em palestras eu me emocionei com a fala de uma parente durante a sua adaptação na cidade para poder estudar na faculdade, que dizia: “ Eu senti saudades da minha comida, de pescar o meu peixe e comer”, eu “senti falta do ar da minha aldeia”. E vivenciando o modo de vida deles e observando, conversando, eu pude entender perfeitamente o que ela disse. Em todos os momentos da vivência, o conteúdo da disciplina fazia sentido para mim, eles vivem de modo simples sem luxo, partilham tudo com todos, e vivem com morosidade, acolhimento e também luta para manter a tradição. Durante as aulas eu participei do grupo responsável pela organização de brincadeiras, fizemos uma lista de possibilidades e queríamos unir adultos e crianças nas atividades. Buscamos trazer um tema importante que foi ressaltado nas aulas sobre a higiene bucal, que era bem deficitária. E uma das brincadeiras este tema era trazido para as crianças. O núcleo da porteira é o primeiro núcleo da aldeia e é o núcleo que os monitores e os organizadores da vivência trabalham em conjunto com a comunidade, de forma que o grupo de fora não atrapalhe ou interfira na comunidade local. E por este motivo buscamos elaborar atividades que os integrassem e fosse respeitosa com o modo de vida na aldeia. Eu não pude aplicar as atividades porém, pude observar a interação das crianças com os animais, e na aldeia tinha uma bola de futebol que era muito utilizada pelos meninos do núcleo em conjunto com os turistas que estavam no local. Em uma das casas ao lado de onde estávamos alojados pude interagir com outras crianças que naturalmente se aproximaram de nós (eu e uma amiga), nos convidando para brincar de esconde esconde, e também estavam brincando de carrinho e com muita facilidade pulavam de um lado para o outro. Elas se comunicavam muito bem em português e eram muito amorosas e curiosas em relação aos produtos que estávamos carregando (shampoo, escova de dentes, creme), queriam saber onde vivíamos e também queriam saber nossos nomes. As crianças ficam livres pela aldeia, acompanhadas sempre de uma criança mais adulta, brincam entre si e pelo que percebi cuidam uns dos outros. As mulheres fazem os artesanatos e as pinturas nos visitantes, como também fazem todo o preparo da comida, cuidam das casas e da organização do núcleo. No grupo da vivência foi um parente de outra aldeia visitar o núcleo, ele trazia uma ligação com a religião cristã, antes de sairmos para as atividades ele nos abençoou rezando o pai nosso. E isso me chamou a atenção. Voltando para a casa de reza, dentro dela temos o símbolo de uma cruz bem discreto, e novamente as palestras sobre a catequização e a imposição da religião e o idioma sobre os indígenas. Durante o trajeto para a praia, observei uma capela e uma igreja evangélica no local, mas em nenhum momento o assunto religião foi mencionado de uma forma ruim. O pajé nos disse que reconhece Jesus Cristo, pois existiam boatos de seus antepassados a respeito dele. Para eles, Deus fez a natureza (que engloba eles, os animais, o meio ambiente) e tudo que existe no planeta. somos todos parentes e precisamos uns dos outros, um cuidar do outro. Conclusão A minha experiência como visitante na aldeia, foi muito importante e agregou conhecimentos para a minha vida pessoal e acadêmica. Observar e interagir com os povos originários me trouxe paz e ao mesmo tempo uma inquietude. Essa inquietude é devido a falta de não saber e como poder ajudar esses povos de modo mais presente no meu dia a dia. Pude perceber a simplicidade, e as necessidades de atenção com a saúde, comida, roupas que eles possuem e isso também é algo que podemos ajudar. As ações do monitor Carlos e o grupo AUPI, são de grande importância para toda a comunidade,e a disciplina oferecida pelo Prof. Jorge na USP-EACH, desperta algo mesmo que mínimo dentro de cada aluno, uma vontade de ajudar se integrar e interagir. Ao perceber o quanto da história contada pelo homens brancos para homens brancos não se desconstrua, acredito que agora cabe a nós mudarmos essa visão aos poucos, dentro de casa, com os amigos, falando do projeto e da vivência. Agradeço imensamente a oportunidade de vivenciar o que vivi, foi algo indescritível apesar de tentar relatar em palavras o que vivi nestes 2 dias. Tenho certeza que os povos originários tem muito mais a nos ensinar e agregar com o modo de vida simples, respeitoso e amoroso.