Giovanna Fernandes

Os "Manchineri" (chamados também de Machinere, Machineri, Manchinere, Manitenére, Manitenerí, e Maxinéri), em conjunto com os Píro, compartilham a língua aruak(do ramo Maipure) e se localizam na Amazônia peruana. Segundo dados do Sesai, em 2012, totalizavam 997 indivíduos. São tribos distribuídas, localizando-se no Brasil,na Bolívia e no Peru.

Manchineri
População total

997 indivíduos (Sesai, 2012)

Regiões com população significativa
Línguas
Aruaque
Religiões
Xamanismo
Grupos étnicos relacionados
Campa, Uarequena, Apurinã, Curipaco, Uapixana

Localização editar

Os Manchineri ocupam, atualmente, uma parte da região sul do estado do Acre no Brasil e outros pontos no Peru e Bolívia. Em território brasileiro,os Manchineri são hoje um povo que se encontra dividido entre as Terras Indígenas Mamoadate e do Seringal Guanabara e, também, na cidade de Assis Brasil. De acordo com a Constituição Federal de 1988, as Terras Indígenas são “territórios de ocupação tradicional”, são bens da União, sendo reconhecidos aos índios a posse permanente e o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.

A Terra Indígena Mamoadate, já reconhecida oficialmente, compreende dois povos indígenas - Manchineri e Yaminawá - e totaliza 1105 habitantes.

A Terra Indígena de Seringal Guanabara, ainda em fase de identificação, abriga apenas o povo Manchineri e soma 166 habitantes.


Mapa Interativo editar

História editar

Como uma tribo que localiza-se em diversos países da América Latina, são encontrados diversos relatos sobre a origem desse povo, mas sua maioria encontra-se localizada no Brasil.

O explorador oitocentista Antônio Loureiro identificou os Manchineri como habitantes naturais da Floresta de Macauã e da Floresta do Caiaté, a partir de, aproximadamente, 1880. Os Manchineri mais antigos, com cerca de 90 anos, contudo, contradizem essa informação, pois afirmam que sempre viveram lá e que seus pais e avós ocupavam aquela área desde muito tempo. Segundo suas estimativas, eram no passado algo em torno de 2.000 pessoas, ocupando desde o alto do Rio Iaco, a partir do igarapé Abismo, até o que é hoje o seringal Nova Olinda, chegando mesmo até Sena Madureira.

Essa tribo, anteriormente ao contato mais intenso com as frentes extrativistas, eram divididos em Manchineri, Hijiuitane, Uinegeri, Cuchixineri, Hahamlineri e Iamhageri. Formavam os "Yineri" (com origem na palavra Yine, “nós”), morando todos próximos e casando-se entre si.

Segundo o antropólogo Peter Gow, ocorria uma situação semelhante para os Piro antigos, que não viviam como um único povo, mas eram divididos em muitos grupos, chamados neru. Cada grupo desses tinha um nome, como os Manxineru (povo da árvore Tamamuri), Koshichineru (povo pássaro pequeno), Nachineru (povo faminto), Getuneru (povo sapo) e Gimnuneru (povo cobra). Ainda segundo Peter Gow, os Piro não casavam-se entre si, só começaram a fazê-lo quando foram escravizados e obrigados a viver juntos pelos extrativistas da borracha. A partir do século XIX, há o início das grandes penetrações na região, e os índios passam a sofrer os horrores das "correrias". Havia duas frentes de pressão: do Peru para o Brasil, por caucheiros (denominação local para serigueiro), e do Amazonas para o Bolívia, por extratores de borracha. A princípio, os índios não foram incorporados como mão-de-obra extrativista, mas sim como mateiros e guias na busca de novas frentes de seringa, apenas quando a crise (decorrente da queda do preço do produto) se estabeleceu é que eles foram obrigados a extrair borracha.

Nas décadas de 1940 e 50 há um novo movimento na indústria extrativista, promovendo nova ocupação de terras antes abandonadas. A partir de 1966 o Governo brasileiro promove um incentivo para que estas terras sejam definitivamente ocupadas e há o investimento na exploração de mineração, extração de madeira e agropecuária. Neste momento, o índice de concentração fundiária e a consolidação de grandes propriedades que seriam destinadas sobretudo à pecuária se fez à custa de conflitos sociais que resultaram na expulsão dos colonos ou índios das antigas áreas de seringais.

Língua editar

OS Manchineri tem uma como sua lingua nativa o Aruak,do ramo Maipure.

As línguas aruaques (também aruak ou arawak) formam uma família de línguas ameríndias da América do Sul e do Mar do Caribe. As línguas aruaques são faladas em grande parte do território da América Latina, desde as montanhas centrais da Cordilheira dos Andes no Peru e na Bolívia, atravessando a Planície Amazônica, ao sul em direção ao Paraguai e ao norte, em países da costa norte da América do Sul, como o Suriname, a Guiana e a Venezuela.

Organização Social editar

Entre os Manchineri, a definição de família básica dá-se por: avô, avó, filhos e netos. Quando não residem todos na mesma casa, ocupam residências próximas, no mesmo terreno. No entanto, cada casal tem um roçado separado.

Npaliqleru e Npaliqlero são as nominações para filhos de um dado casal, estando inclusive proibidos sob tabu de incesto de se casarem centre eles. É portanto proibida a união entre primos paralelos, algo idêntico ao incesto. Já o casamento entre primos cruzados é muito comum, mas não é uma regra.

Uma outra categoria muito encontrada entre os povos da floresta no Acre são os compadres e comadres. O compadrio tem uma importância fundamental nas questões de aliança entre famílias.

Os aruaques - tronco em que estão localizados os Manchineri - eram polígamos e o número de mulheres de cada homem era proporcional a sua importância social. Os territórios aruaques eram divididos em cacicados, cada qual comandado por um cacique. Os caciques tinham alguns privilégios: moravam em uma casa quadrada, diferente das casas redondas dos demais; se sentavam em bancos de madeira nas recepções a outros chefes e nas festas e usavam pingentes dourados no pescoço, chamados guanin. O poder religioso era detido pelos bohike.

Cosmologia e Religiosidade editar

Dentro da tribo, a palavra Karrunhotí tem significado próximo de pajé, uma pessoa que percorre entre diversos círculos sociais. A aquisição do poder por um Karrunhotí, antes que conquistado, é dado à pessoa por um ser físico ou espiritual. Todo o processo de formação do Karrunhotí é um meio pelo qual se prepara o corpo e a mente para que o conhecimento possa ser percebido e recebido. Para se perceber deve-se estar pronto para receber, no local certo, na hora certa, e com um estado de espírito determinado. Forma-se então a ponte entre mundos, uma ponte viva na pessoa do xamã, do pajé, do Karrunhotí.

A religião aruaque centralizava-se no culto a deuses e antepassados (chamados zemí na cultura taina), os quais eram representados sob a forma de objetos de madeira, cerâmica, conchas, algodão ou pedra, ou sob a forma de desenhos na rocha (petroglifos). Nas lendas e histórias tradicionais dos povos aruaques, um tema frequente é o sofrimento: seja o sofrimento causado pela chegada do homem branco, seja o sofrimento relacionado à origem mítica da mandioca, que teria se originado a partir do sepultamento de uma filha ainda viva que então teria se transformado na raiz da mandioca.

Não há uma distinção clara entre as práticas religiosas e a etnomedicina das culturas indígenas. Os povos aruaques acreditam em espíritos do bem e do mal, que poderiam habitar corpos humanos como objetos naturais. Eles procuram controlar esses espíritos através de seus sacerdotes chamados bohiques. Dos povos sobreviventes em nossos dias, algumas etnias realizam rituais de cura e comunicação com espíritos utilizando substâncias enteógenas, a exemplo dos campas (ashaninkas), os piros e tarianas, que utilizam substâncias preparadas geralmente a partir da decocção de duas plantas nativas da floresta amazônica: o cipó Banisteriopsis caapi (que pertence à família das malpighiáceas) e folhas da rubiácea Psychotria viridis.

Evangelização Atual editar

Hoje em dia, ocorre um fenômeno relativamente parecido com o que ocorreu há 500 anos através dos jesuítas. Missionários, geralmente evangélicos, instalam-se nas tribos durante algum tempo para levar seus dogmas e 'catequizá-los' segundo sua religião. O movimento vem crescendo cada dia mais.

Aspectos Culturais editar

Atividades Produtivas editar

Os povos aruaques viviam da agricultura (eram conhecidos como típicos agricultores), da caça, da pesca e da coleta de produtos da floresta. O termo "aruaque" significa "comedor de farinha", denunciando que a base de sua alimentação era a farinha de mandioca, a qual era assada para se fazer pão. A mandioca, assim como o mamão, o abacaxi, o abacate, o chuchu, a acerola, a batata-doce, o cará, o algodão, o tabaco, diferentes variedades de pimenta, pimenta-da-jamaica, abóbora, feijão, milho, fruta-de-conde, girassol e graviola, era plantada em montes de terra da altura de um homem conhecidos como conuco.

A caça entre os Manchineri acontece de diversas maneiras, uma delas é em trilhas. O caçador pode estar munido de espingarda ou apenas de terçado, mas geralmente utiliza cães. Mariscar, ou seja, pescar de tarrafa, é também uma das grandes fontes de alimentação. Usam ainda linha e anzol, além de mergulharem e pegarem os peixes com fisga quando o rio está baixo e a água clareia. Ainda que não se tenha carne para comer (algo muito valorizado), se terá o peixe, tanto do rio Iaco quanto de igarapés e igapós.

O marido trabalha na roça quando não está caçando, a mulher o faz a maior parte do tempo. Mas mulheres que cuidam de filhos pequenos não trabalham na roça.

Festas editar

Entre as festas tradicionais, uma delas é a cerimônia de passagem da menina, aos quinze anos, à condição de mulher. A garota, Iunaulu, é toda pintada pela avó com tinta de jenipapo sobre uma base de urucum cozido. Há então uma festa para toda a aldeia, dada pelos pais da moça, que dura um dia inteiro, com muita caiçuma e comida.

Situação territorial editar

De acordo com a Constituição Federal de 1988, as Terras Indígenas são “territórios de ocupação tradicional”, são bens da União, sendo reconhecidos aos índios a posse permanente e o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.

A Funai criou a Terra Indígena de Mamoadate em 1975. O sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Jr. foi o responsável pela transferência dos índios do seringal Guanabara, onde havia um conflito intenso entre extrativistas e donos de terras, uma vez que vastas áreas estavam sendo vendidas para pecuaristas latifundiários do Sul do país. Hoje ainda ocorre pressões e ameaças por parte dos madeireiros da região.

A Terra Indígena de Seringal Guanabara, ainda em fase de identificação, não possui informações suficientes a respeito de possíveis disputas territoriais

Fontes editar

Evagelização em Terras Indigenas

Povos Indigenas do Brasil - Machineri

WikiLivros - Aruak

Governo do Estado do Acre

Terras Indigenas

Línguas Aruaques