Wikinativa/Michelle Brito(vivencia Guarani 2016 - relato de experiência)


Foram três dias de muita paz, alegria e conexão com a natureza. Isso resumiria a minha experiência. Tudo começou com a minha inscrição na disciplina do professor Jorge Machado, não sabia bem ao certo do que se tratava, só sabia que as experiências dos meus colegas que foram um ano antes, tinha sido fantástica e gostaria de vivenciar isso também. Ademais meu interesse de conhecer novas culturas, lugares e ter novas experiências me motivou ainda mais em me abrir a esta vivência. As aulas preparatórias foram importantes para refletir sobre o tema dos indígenas, os cuidados que deveríamos tomar, e os pré-conceitos que não poderíamos levar para essa viagem. Os vídeos passados em aula também foram importantes para esse processo de aprendizado, elucidando a lutas socais e políticas indígenas pelo Brasil.

Aldeia Guarani Tekoa Pyau editar

O primeiro contato com aldeia indígena foi com a Aldeia Guarani Tekoa Pyau, localizada na Estrada Turística do Jaraguá, na Zona Oeste de São Paulo, tive um choque. A aldeia enfrenta muitos problemas para se manter naquela terra. Os indígenas vivem numa situação de extrema pobreza junto com centenas de cães e gatos abandonados em estado lastimável. A precariedade das casas, a falta de saneamento, higiene faz daquele lugar, aos olhos dos brancos um a favela. Na conversa com uma das lideranças da aldeia pude perceber a satisfação de pertencimento daquele povo que apesar das dificuldades se mantém unidos e na luta diária em manter a cultura. Uma coisa que me chamou atenção foi o cuidado que eles têm com os seres vivos, é dizer, a empatia e o acolhimento que eles têm com todos os serem que ali chegam para pedir abrigo, comida e um lugar pra dormir, seja indígena, branco ou animal, sempre haverá um espaço e um prato de comida. Essa humanidade na cultura indígena é algo a se valorizar e invejar dentro deste mundo individualista que vivemos.

Aldeia Rio Silveira editar

A segunda vivência foi mais intensa. Chegamos em um dia não muito bonito, nossa expectativa era passar 3 dias naquele paraíso sob a luz radiante do sol, mas a realidade foi diferente. De todo modo, chegamos e fomos bem recebidos. Ao longo de todos os dias as crianças foram as que estiveram mais presente conosco. A primeira coisa que pude perceber foi a quantidade de antenas parabólicas, praticamente tinha uma em cada casa. Em meio aquela paisagem rupestre tinha uma antena parabólica, isso me fez pensar varias coisas, dentre elas, que eles estavam imersos a nossa cultura e que a televisão é um meio de comunicação e informação que eles tem com a nossa cultura.

As crianças editar

Ao longo dos dias o que mais me chamou atenção foi à relação da comunidade e as crianças. Nas aulas preparatórias já haviam comentado sobre essa relação, onde as crianças eram da aldeia, no sentido de todos serem responsáveis por elas e cuidarem delas, diferentemente da nossa cultura que a criança e de uma família. Isso também implica na relação pais e filhos, não havia um contato constante dos filhos com os pais, as crianças quando queriam algo não necessariamente se reportavam a seus pais, mas sim a qualquer pessoa mais velha que estivesse perto. Percebia uma independência e autonomia das crianças, elas resolviam seus problemas, em momento nenhum pude identificar quem era filho de quem. As crianças eram livres, e os maiores cuidavam dos menores. Também não se ouvia choros ou birras de crianças, penso que por essa independência e cultura de comunidade, as crianças não tinha essa necessidade. A birrar e o choro está muito relacionada com as crianças chamarem a atenção dos seus pais. Algo que achei lindo foi o respeito que as crianças tinham com todos, não se ouvia uma voz mais alterada ou bravejando das crianças, todas ouviam e falavam principalmente nas brincadeiras, onde normalmente as crianças são mais agitadas. Nas brincadeiras não havia vencedor, só havia diversão, não se tinha esse espirito competitivista entre as crianças, elas ó queria brincar e se divertirem. Isso só confirmou a minha tese de que “O ser criança” vem se perdendo a cada dia nessa vida frenética que vivemos. A tecnologia vem roupando a infância e deixando nesse vazio, individualismo, egoísmo e a dessocialização. Mais e mais crianças se veem trancadas em prédios, com um vídeo game, tablete ou computador.

As atividades editar

O banho no rio, a trilha, a casa de reza, a pintura foram atividades muito gostosas e satisfatórias. Os banhos apesar de gelados, no inicio, eram relaxante e dava uma calma no corpo e alma depois. A trilha foi uma aventura para muitos estudantes. Havia muitos obstáculos, pois o terreno estava húmido e com muita lama, e como muitos estudantes não queriam se sujar e não tinham habilidades motoras para passar pelos obstáculos, era um show a parte. Com isso não foi possível ouvir a natureza na sua plenitude do silencio que conforta e nem ver animais ou aves ao longo da trilha. A casa de reza foi outra experiência fantástica, participar daquele momento tão sagrado. Foi estranho no começo, aquele lugar fechado cheio de fumaça, mas em pouco tempo o corpo se acostumava e a fumaça já não incomodava. Não tinha noção como era a relação dos indígenas com a religião, pensava que fosse próxima da igreja católica. Após algum tempo identifiquei que homens ficavam de um lado e as mulheres do outro, no fundo ficava alguns jovem e mulheres com as crianças pequemas. Não entendi o motivo da separação por sexo. O canto foi o que mais me chamou atenção, a força na voz das mulheres cantando, era algo que se sentia na pele, arrepiada. Era um canto forte e harmonioso, e na batidas dos pés, sentia o som sob o seus pés. Fiquei ao lado de uma indígena, e eu de olhos fechado sentia aquele som vindo ao meu ouvido que arrepiava a pele e sentia no coração.

As palavras editar

A palavra para um índio vale mais que um papel. As palavras no último dia do cacique só deixa mais clara essa cultura de comunidade e humanista. As palavras dos brancos, nem no papel valem mais. São palavras vazias de comprometimento, sentimento e moral. O respeito ao próximo e as relações humanas desse povo foi o que mais marcou. Espero levar um pouco desse sentimento e comprometimento para a minha vida e minha carreira.

Ponto Negativo editar

Confesso que estava muito aminada em comer a comida local, na expectativa de experimentar coisas novas, ou de modo diferente. Nas aulas preparatórias ficava imaginado, peixe, coisas colhida da mata, palmito. Também tinha gostado da ideia de nós estudantes fazermos as nossas refeições sob a supervisão das mulheres indígenas. Mas nem tudo que planejamos acontece de fato. As mulheres indígenas acabaram preparando todas as nossas refeições, uma vez ou outras algum estudante lhes ajudavam. A “comida local” foi arroz e feijão nos três dias, no almoço e na janta. Confesso que já não aquentava mais isso e estava com saudade do meu humilde macarrão e algumas verduras e legumes. Fiquei pensando, onde foi para o fubá. Isso mesmo, o fubá. No dia da viagem muitos estudantes tinham levado doações e alimentos para a nossas refeições ao longo dos 3 dias. Após a o segundo dia de arroz e feijão, pensei onde foi parar nossas doações, porque não tem uma polenta com aquele fubá. O ponto negativo não diz respeito á aldeia ou as pessoas, mas sim a comida. Fora isso minha experiência foi fantástica e única.

Minhas Reflexões editar

Contar experiências vividas é sempre um desafio, você pensa “como passar ao leitor uma parte de tudo que eu vivi na minha experiência?”. Cada um tem um sentimento, sensação, experiências e visões diferentes a cada vivência. Uns vivem mais intensamente ou menos, mas todos leva para si uma parte daquela experiência, seja em memórias, fotos, ou recordações. Poderia falar de varias outras coisas, mas deixo uma pequena parte daquilo que me marcou. Como todas as experiências vividas ao longo da minha graduação, essa também guardarei em minha memórias e lembrarei no futuro lembrarei saudosa desses três dias na Aldeia Rio Silveira.