Wikinativa/Paloma Ferreira Martins (vivência Guarani 2019 - relato de experiência)

INTRODUÇÃO

Me matriculei na disciplina porque queria aprender um pouco mais sobre como é a cultura indígena. Acredito que como gestora ambiental, esse tipo de experiência é ótimo para aprender com os maiores gestores ambientais, além de ajudar a gerar argumentos que podem ser usados em projetos futuros na profissão de gestora ambiental.

VIVÊNCIA JARÁGUA

Visitamos a aldeia indígena do Jaraguá no dia 21 de setembro de 2019. Inicialmente, minha ignorância me fez acreditar que por ser uma aldeia mais próxima do meio urbano, eles passariam menores dificuldades. Foi um choque ao entrar na aldeia e ver o tamanho da terra para aquela quantidade de pessoas, como tudo fica tão amontoado e como isso serviu para que eles deixassem de seguir algumas tradições, como o caso do Tipá, que era feito com milho, mas a falta do ingrediente fez com que passasse a ser feito com farinha de trigo, por ser mais barata. Além disso, como o contato com o meio urbano alterou a alimentação,que fez com que passassem a consumir cada vez mais industrializados, ao entrar na aldeia, percebemos algumas embalagens de plástico de produtos como salgadinhos, bolacha e refrigerantes. Além da alta taxa de animais abandonados no local. Percebe-se também que, por mais que a aldeia seja próxima ao Parque Estadual do Jaraguá, isso não ajuda os indígenas a se fortalecerem, o parque que poderia ser um grande aliado desses povos, faz com que haja mais conflitos de uso de terra. A experiência na aldeia do Jaraguá foi surpreendente porque ali eu percebi como, independente do governo que esteja no poder, o indígena não descansa e vive em prol da resistência para manter suas tradições vivas.

VIVÊNCIA ALDEIA RIO SILVEIRAS

A visita à Aldeia Rio Silveira foi realizada nos dias 15, 16 e 17 de novembro. Ao contrário da experiência no Jaraguá, na aldeia Rio Silveiras, eu esperava que a situação fosse um pouco pior, por conta da distância do meio urbano, porém logo de cara essa expectativa foi quebrada. A aldeia conta com mais território, o que os permite o cultivo de plantas e alimentos. Um dos pajés citou, um pouco antes de seguirmos para a cachoeira, que eles fazem o uso do sistema de agrofloresta. Obviamente, nem tudo que eles consomem têm origem direta da natureza, algumas coisas são industrializadas também, porém percebe-se, empiricamente, que a taxa de industrializados é bem menor que a presenciada na aldeia do Jaraguá. A vivência para mim foi algo bem marcante, consegui me desligar da cidade e viver aquela experiência da melhor forma que eu poderia. Eu participei do grupo de alimentação saudável, e fazer parte disso me fez repensar alguns hábitos meus. Apesar de pouco antes da vivência eu já estivesse repensando meus hábitos alimentares, sobre como alimentar o agronegócio é uma forma de ajudar a destruir toda aquela tradição que eu estava amando viver. Isso ajudou a me fortalecer ainda mais no hábito que eu estava querendo quebrar. Outra coisa que foi muito impactante positivamente para mim foi a questão espiritual. Na aldeia Rio Silveiras eu senti muito forte a espiritualidade na casa de reza, o que, acredito eu, tenha me ajudado a desligar um pouco da cidade. A reza de sábado foi um momento muito forte. Infelizmente, eu só consegui pegar o final da reza porque estava escalada para ajudar na janta, mas o pouco que eu presenciei, foi o suficiente para me emocionar. Na visão de uma gestora ambiental, onde eu devo me preocupar com a preservação da natureza, a aldeia se mostrou como uma aliada do Estado nesse quesito, pois a demarcação da aldeia ajuda com que haja menos avanço da mancha urbana em cima das florestas. Porém, é a aldeia que enfrenta o conflito do uso de terras com a população local, pela falta do Estado em intervir e dar condições dignas de moradia à população do entorno. Além de tudo isso, foi uma experiência muito rica de poder fazer parte dessa rotina durante um final de semana, poder conversar diretamente com os povos originários e aprender com eles.