Wikinativa/Paula Rosa Pereira (vivencia Guarani 2018 - relato de experiência)

Chegamos na quinta-feira (11/10) na tribo, estava chovendo muito e todo mundo já estava esperando o pior do frio, da chuva e da lama que viria pela frente. Aquela primeira noite foi muito boa, a chuva passou, fomos a casa de reza nos instalar e participar da primeira vivência na casa de reza, eu tentava entender o porquê de tanta fumaça e calor mas aos poucos eu conseguia entender os rituais feitos por eles. Após o fim da reza fomos jantar e depois a chuva voltou forte, como já estávamos acomodados na casa de reza fomos pra perto da fogueira nos esquentar para dormir; confesso que me deu um certo medo de dormir na casa de reza por medo de animais mas foi uma noite bem tranquila.

Ao acordamos conseguimos montar nossas barracas atrás da casa de reza, experimentei o tipá (comida indígena típica) e adorei a textura e o gosto, se assemelha com massa de pastel mas é mais gostoso. Após o café da manhã, nos reunimos e fomos para uma cachoeira que era perto do núcleo principal onde estávamos hospedados, era um lugar muito bonito, cheio de pedras, água gelada e sons da natureza, ficamos um bom tempo por lá e depois a chuva começou ameaçar a cair, então voltamos para a aldeia para almoçar e continuar as atividades.

Quando chegamos nos deparamos com uma excursão de motoclube que tinham feito doações de brinquedos para o dia das crianças, eles estavam tirando inúmeras fotos dos indígenas e distribuíram algumas bíblias compactadas para todos nós. Eu, particularmente, não gostei dessa atitude porque me lembra aquela história em que os europeus tentavam cristianizar os indígenas em troca de alguns bens materiais porém o Pajé é uma figura muito forte e soube se impor diantes de todos aqueles turistas.

Após o almoço fomos tomar banho e descansar porque a chuva voltou forte e todos tiveram que proteger a suas barracas; a chuva passou e todo saíram para as oficinas de camisetas e as atividades de lazer com as crianças. Ao término de todas atividades, fomos a casa de reza e ficamos um bom tempo orando por Nhanderú através de cânticos e conversas, a reza acabou tarde e fomos dormir.

No sábado de manhã já estava fazendo um sol bem forte, tomamos café da manhã e fomos visitar o Rio Silveiras, passamos por outros núcleos indígenas e notei o abandono de muitas casas porque essas pessoas não conseguem morar muito longe de suas tribos e então retornam onde é mais povoado, conhecemos de longe a escola para indígenas que contém a mesma configuração das casas ao redor mas acredito que ocorre um certo abandono relativo aos recursos de manutenção da escola. Fizemos uma longa trilha, cheia de fauna e flora, para chegar ao Rio Silveiras, um lugar lindo, cheio de quedas da água, todos se acomodaram para aproveitar aquele lugar.

Ocorreu a aplicação de rapé (medicina indígena) em grande parte de nós, foi uma das melhores experiências que eu tive na vida, no momento da aplicação é muito forte a inspiração do produto mas depois de minutos o alívio vem muito forte, eu consegui me conectar com a natureza e aceitar que sou parte dela e que as reações do meu corpo perante a medicina é para a libertação da minha alma, fiquei um bom tempo me acostumando com aquela sensação de paz que entrava em mim e desapareceu com toda minha ansiedade e angústias e o sentimento de leveza era tão forte que foi até difícil de andar ou falar durante um bom tempo mas a sensação é incomparável.

Ao retornarmos da trilha do Rio Silveiras tivemos uma roda de conversa com o Pajé que administra todos núcleos indígenas do Rio Silveiras em que ele relatou todos os problemas que as aldeias sofrem por conta das decisões do Estado e a falta de verba da FUNAI, o Pajé também contou a respeito da cultura e costume dos povos da região, foi um momento de grande aprendizado.

Voltamos para tribo para almoçar e continuar as atividades, a chuva nos pegou de novo e o nosso grupo ficou incapacitado de fazer a plantação das mudas na estufa pois a mesma já estava tomada pela chuva, portanto o nosso grupo participou das outras oficinas. Ao final do dia, fomos a casa de reza e oramos, depois tivemos uma conversa com a liderança da aldeia do Jaraguá, ele expôs toda crise política e social que estamos vivendo no país e a luta da comunidade indígena, todos nós nos sentimos que aquela luta era de todos nós.

No domingo, ao acordar começamos a nos preparar para ir embora, fomos a casa de reza cantar e dançar com as crianças e foi muito bom sentir a proximidade com o aquele povo e sua cultura, nós nos sentíamos em casa com eles. Ocorreu o fechamento com depoimentos e fala das pessoas que participaram daquela viagem e todos resultados foram ótimos, voltamos com uma perspectiva diferente sobre o povo, a religião, a língua, a cultura e os costumes e fortalecendo a cultura Guarani!