Os pitaguary, também chamados potiguara, são pessoas que pertencem a um grupo indígena que habita a Terra Indígena Pitaguary, nos municípios de Maracanaú e Pacatuba, ambos no estado do Ceará, no Brasil[1].

Pitaguary
População total

3.793 (Funasa, 2010)

Regiões com população significativa
Línguas
Tupi-Guarani
Religiões

Localização

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Os Pitaguary vivem em localidades diversas, dentre as quais estão Santo Antônio, Olho D’Água, Horto (sob a jurisdição do município de Maracanaú) e Monguba (no município de Pacatuba). Essas localidades estão dentro da Terra Indígena Pitaguary.

As localidades mencionadas variam bastante quanto à sua caracterização, à densidade demográfica e o grau de atenção que têm dentro e fora da Terra Indígena. Santo Antônio talvez seja a comunidade de maior visibilidade para os Pitaguary. Isso se deve ao fato de que, além da paisagem exuberante de que dispõe, é o local que concentra a maior parte dos lugares de memória desse povo. Também foi lá que se deu o pontapé inicial para a mobilização em torno da demarcação da terra Pitaguary.

Distando aproximadamente 26 quilômetros de Fortaleza, a Terra Indígena (TI) Pitaguary está situada na Região Metropolitana da capital, tendo em seus arredores uma área caracterizada pela concentração de indústrias e urbanização crescente.

Município: Maracanaú e Pacatuba. Comunidades: 1) Maracanaú: Horto, Olho d'Água e Santo Antônio dos Pitaguary; 2) Pacatuba: Monguba.

Coordenadas 3°56'21"S 38°38'2"W

Mapa Interativo

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3.5621° ' S 38.382º ' W

História

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Em 1665, após os conflitos que envolveram habitantes nativos, portugueses e holandeses no Ceará, os Potiguara, formaram um grande aldeamento original cujo nome se conheceria, mais tarde, como Bom Jesus da Aldeia de Parangaba. Grupos menores daí se destacaram e por volta de 1680 constituíram as Aldeias de São Sebastião de Paupina, de onde se originariam mais tarde as aldeias de Caucaia e a Aldeia Nova de Pitaguari.

Também consta nos arquivos que, em 1707 e 1718, os índios de Parangaba receberam, por data de sesmaria, posses de terra na costa da Serra de Sapupara e na Serra de Maranguape, enquanto os índios de Paupina, em 1722, receberam suas terras na Serra de Pacatuba. Um século mais tarde, em 1854, o sítio Pitaguary era registrado como terra de posse indígena, levando o nome de 21 índios e seu líder, Marcos de Souza Cahaiba Arco Verde Camarão. Acredita-se, assim, que os Pitaguary de hoje descendam diretamente da população que se fixou nessa região, compreendendo parte dos municípios de Pacatuba e Maranguape (do qual se originaria mais tarde Maracanaú).

Já em 1863, foram registradas queixas dos índios contra posseiros que tentaram tomar suas terras por fraude. Em complemento às fontes escritas, nas narrativas Pitaguary o contato é representado como sinônimo de invasão e perda de autonomia. Essas histórias revelam, inclusive, que parte das obras hoje encontradas na localidade de Santo Antônio dos Pitaguary, como a igreja e o açude de mesmo nome, foram construídas à custa de trabalho escravo indígena.

No princípio, contam os narradores indígenas, “era tudo um povo só”, “uma só nação”, levada à divisão em face do contato. Com a chegada dos “ricos fazendeiros” veio, então, o tempo da “escravidão”, em que os índios foram levados a trabalhar na construção de grandes edificações. A escravidão ou o “cativeiro”, que aparece nessas narrativas, tanto quer significar uma prisão, de fato, quanto, simbolicamente, um estado de sujeição coletiva em que há perda de autonomia, ou seja, perda da liberdade de produzir e se reproduzir.

Além dos fazendeiros, a terra indígena Pitaguary sofreu a ocupação do Estado, através de diversas instituições, durante um período consideravelmente extenso. Essa presença marcou profundamente a história da comunidade de Santo Antônio dos Pitaguary. Durante grande parte do século passado, os Pitaguary viveram num regime ditado pelos chamados “doutores”, ocupando, no máximo, posições subalternas que lhes eram destinadas nas casas dos chefes ou nas repartições públicas. Foi somente no início deste século que, após mobilização intensa por parte dos moradores, a Polícia Militar do Ceará, juntamente com a sua cavalaria, foi retirada de dentro da área Pitaguary. Paralelamente, outras medidas (como o fechamento do portão que dá acesso à localidade de Santo Antônio e ao açude de mesmo nome) deram continuidade à retomada, por parte dos índios, da terra que lhes cabia e do patrimônio material nela presente. De um modo geral, a retirada da Polícia Militar do Ceará, o fechamento do açude e o fim da comercialização de bebidas alcoólicas dentro da área representou, cada qual, um marco na história recente desse povo.

Língua

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A língua nativa dos Pitaguarys que descende dos potiguaras é o Tupi-Guarani.

Cosmologia e Religiosidade

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Há vários lugares de memória na área Pitaguary. Entre esses lugares destaca-se a figura da “mangueira centenária”, da “senzala dos escravos” e da gruta ou do “buraco” de Santo Antônio, para citar apenas alguns. A mangueira é constantemente identificada com a figura da “mãe natureza”, que protege, dá paz e conforto. Ela está no centro das atenções, pois, segundo contam os narradores indígenas, “naquele pé de mangueira, exatamente lá, morreu muito índio enforcado e matado de fome”.

A mangueira é símbolo de um tempo pretérito, mas também de um momento vivido no presente. Ela é a lembrança do que se passou ao mesmo tempo em que se torna cenário de atividades contemporâneas de suma importância. Por exemplo, é sob a sombra da “mangueira sagrada” que, no dia 12 de junho de cada ano, os Pitaguary realizam um evento tradicional, cujo maior objetivo é apresentar o Toré para a própria comunidade e para visitantes que vêm de fora da área indígena.

O Toré Pitaguary é uma dança que se inicia com os participantes dando as mãos e formando um grande círculo, como numa "corrente" de oração. Aqueles que dançam seguem os comandos dos chamados “puxadores” de Toré, geralmente o cacique ou o pajé. O canto é acompanhado pelo som das maracás e muitas vezes conta com a batida de tambores que ficam no centro da roda. É nesse momento que, segundo contam os narradores, a mangueira chora. Dizem que o clamor dos índios escravizados no passado é tão forte que, ao “brincar o Toré”, debaixo da árvore chove. Para o antigo pajé Pitaguary, seu Zé Filismino, a chuva nada mais é do que o choro da mangueira.

O ritual se completa com a ingestão de uma bebida, preparada à base de frutas nativas da região, e servida para todos os membros num recipiente único (uma cabaça) que deve sempre girar em sentido horário. Os Pitaguary não têm o costume de experimentar dessa bebida, a “atanhanga”, em momentos que não sejam o da dança, indicando, com isso, que se trata de uma bebida de uso ritual.

Além do Toré, as narrativas orais constituem um importante elemento da cultura Pitaguary. Nelas, é comum encontrar referências à idéia do contato entre índios e não-índios. Esse momento é representado como uma descoberta fundada sobre a violência e seguida de aprisionamento. Um dos personagens-chave de muitas histórias é o “velho Miguel Barão”, rico fazendeiro que teria usurpado larga faixa de terra pertencente aos índios. O “velho Miguel Barão” personifica a invasão e o processo de escravização de que tanto falam, em suas narrativas, os Pitaguary.

Há também as crenças nos chamados “seres encantados”, presentes nos relatos míticos que têm como personagem principal a “caipora”. A caipora é símbolo da afirmação de um saber indígena sobre a “mata”. Histórias relacionadas a ela aparecem, freqüentemente, quando o assunto é a caça. Ao sair para caçar, dizem alguns mais velhos, “o pessoal vê gemido, vê pancada, vê chiado, fica ouvindo coisa que não vê”. Por que? Porque “ali tem encanto”, “caipora é encantado”. Ao contar essa história, alguns utilizam a referência com o artigo definido “a” (a caipora), outros a colocam no masculino, com o artigo "o", fazendo concordância com a figura do “caboco” ou “caboquinho”.

Assim como o Toré, que de “brincadeira” passou à “arma de guerra”, as narrativas, além do seu caráter lúdico e pedagógico, passaram a ser instrumentos eficazes na demarcação da(s) singularidade(s) do povo Pitaguary, uma singularidade que se quer dizer histórica, política e cultural. Assim, a atividade de rememorar e narrar hoje tem uma importância que extrapola o âmbito da socialização interna desse povo.[2]

Aspectos Culturais

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Habitadas pelos Pitaguary desde há muito, em suas terras são marcadas socialmente por uma série de acontecimentos que fundam a memória coletiva deste povo, pois foi nelas que os chamados 'troncos velhos' pereceram, deixando suas 'raízes antigas', assim como é delas que sobrevivem os Pitaguary de hoje. Vivem da caça, pesca e agricultura (algodão, milho, feijão, mandioca e jerimum, entre outras culturas).

Medicina tradicional

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Os Pitaguary são grandes conhecedores de uma vasta diversidade de ervas e plantas medicinais que utilizam na cura de diversas doenças.

Situação territorial

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Em 1991, os Pitaguary iniciaram uma articulação política reafirmando sua identidade e em busca de seus direitos. Nessa época, algumas famílias dos índios Pitaguary foram expulsas de suas terras e passaram a residir em bairros da zona urbana de Maracanaú(CE), próximos às suas terras. Ocupavam-se em serviços informais e subalternos e moravam de aluguel, passando por grandes dificuldades.

Porém, a maioria dos Pitaguary permaneceu na área do aldeamento, vivendo como moradores dos fazendeiros, obrigados a pagar parte de sua produção agrícola para aqueles que ocupavam suas terras. Conscientes de seus direitos — assegurados pela Constituição de 1988 —, seis famílias Pitaguary passaram a reunir-se sob a liderança do Cacique Daniel.

Este grupo começou a pressionar pela demarcação de suas terras, tendo como resultado a criação do Conselho Indígena Pitaguary. Mais tarde, o número de pessoas engajadas na luta pela conquista dos direitos indígenas foi crescendo e, como resultado, novos espaços de organização política foram criados, surgindo o Conselho de Articulação Indígena Pitaguary, o Conselho Indígena Pitaguary de Monguba, a Associação dos Produtores Indígenas Pitaguary, a Articulação das Mulheres Indígenas Pitaguary e o Conselho dos Professores Indígenas Pitaguary.

Como demonstrativo desta organização, na Aldeia Monguba, em Pacatuba, lugar de rara beleza e berço de um povo eminentemente criativo, possuem uma Casa de Apoio local, que serve para reuniões, encontros e realização de atividades culturais.

Fontes

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  • [1]pib.socioambiental

Enciclopédia Barsa Universal.

Referências

Referências externas

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Giovane