Wikinativa/Rafael Justino Monteiro (vivencia Guarani 2019 - SMD - relato de experiência)
Entre os dias 15 e 17 de novembro de 2019, os alunos matriculados na disciplina "ACH3648 - Seminários de Políticas Públicas Setoriais III” do curso de Gestão de Políticas Públicas (EACH/USP), a qual estou matriculado, realizaram uma imersão em caráter de vivência na Aldeia Guarani Rio Silveiras. A aldeia está localizada no litoral paulista, na divisa entre os municípios de Bertioga e São Sebastião. A viagem foi articulada pelo Profº Jorge Machado, que promove a atividade há alguns anos.
A vivência foi muito enriquecedora, na medida em que permitiu conhecer uma cultura tradicional em seus diversos aspectos, bem como seus elementos de resistência em um contexto de globalização tão devastadora como a atual. Além disso, a aldeia fica no meio da Mata Atlântica e reúne moradores dos povos tupi e guarani.
No primeiro dia, chegamos algumas horas após o previsto, por volta de 16h, por conta do trânsito que pegamos já nas estradas do próprio litoral. Após nos acomodarmos no local participamos de uma cerimônia religiosa na Casa de Rezas, o que foi muito importante para entender as crenças do povo tupi-guarani e suas percepções sobre o contexto social do país em relação aos povos indígenas. O espaço também foi aberto para tirar dúvidas juntamente com o pajé, líder religioso da aldeia. Em seguida, realizamos nossa primeira refeição, um jantar que foi preparado pelos alunos com ajuda das cozinheiras da aldeia.
O segundo dia iniciou com um café da manhã, onde pude participar do preparo, visto que eu fazia parte do grupo responsável pela alimentação durante a vivência. Em seguida, realizamos uma trilha dentro da Mata Atlântica até a cachoeira. No caminho para lá, pudemos ainda adentrar uma escola indígena e em seguida participamos de uma roda de conversa com o cacique, líder político do local, além de conhecer a agrofloresta da aldeia. Conhecer a agrofloresta ainda foi importante para subsidiar um trabalho de outra disciplina, que tratava de tecnologia apropriada. Ao prosseguirmos a caminhada e adentrando mais a fundo na Mata Atlântica, pudemos plantar uma muda de árvore nativa no meio da floresta, para mim um dos momentos mais importantes da imersão. Foi uma experiência incrível de contato com a natureza, onde pudemos conhecer mais aspectos da relação entre o povo tupi-guarani e a floresta. As águas cristalinas da cachoeira trouxeram um ar de paz e tranquilidade, bem como os sons da natureza ao longo de toda a trilha, onde foi possível, inclusive, caminhar em um dos rios. Ao retornarmos à aldeia, tive a oportunidade de ir à praia pela primeira vez. Assim que eu vi o mar fiquei maravilhado. Sentir os pés na areia e entrar na água com aquela vista maravilhosa do pôr do sol trouxe uma sensação de paz incrível. Ao retornar à aldeia, infelizmente não foi possível participar da cerimônia na Casa de Rezas do segundo dia, pois eu, juntamente com algumas pessoas do grupo da alimentação, ficamos responsáveis por preparar o jantar. Foi muito interessante participar deste processo de preparo, mas infelizmente foi uma das poucas oportunidades de interagir de forma mais integrada com o restante dos membros da disciplina, visto que não houveram muitas oportunidades para integração.
No domingo, terceiro e último dia, tomamos café da manhã e fomos à praia, só que desta vez com toda a turma. Foi um momento muito bom de distração, onde os alunos puderam interagir melhor. Ao chegarmos na aldeia, almoçamos e participamos de atividades culturais junto aos membros da aldeia. Infelizmente, foi uma das poucas janelas de oportunidade de interação com os indígenas fora de alguma cerimônia formal.
Retornamos à São Paulo na tarde de domingo e as experiências levadas da aldeia foram muito enriquecedoras, porém foi um baque ter que lidar novamente com a lógica produtivista que estamos imersos diariamente. Infelizmente, essa lógica estava presente inclusive em alguns processos da disciplina. Acredito que fiz o que dava pra fazer na aldeia, mas sinto que poderia ter aproveitado melhor o espaço que estávamos inseridos.