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André Mello

Os Tariana são uma sociedade tradicional indígena e fazem parte da família dos Aruaque. Os Tariana são também chamados de Tariano e de Talieseri. Segundo a Funasa (2010) pertencem a essa tribo 2067 indivíduos e residem ao longo da bacia do Uauapés, entre os extremos do Estado do Amazonas e da Colômbia.

Tariana
Mapa da região habitada pela tribo dos Tariana
População total

2.067 (Funasa, 2010)

Regiões com população significativa
Amazonas e Colômbia
Línguas
Tariana, Tucano e Português
Religiões
Xamanismo
Etnia
Tariana
Grupos étnicos relacionados
Makú, Tucano, Baniwa


Localização editar

Os povos indígenas da etnia Tariana são hoje encontrados no extremo dos territórios do Brasil e da Colômbia. Eles vivem em sua maioria nos derredores do rio Uaupés, ou Vaupés como também é chamado na Colômbia.[1]

Mapa Interativo editar

A nascente do rio Uaupés se localiza em Guaviare, um departamento da Colômbia. As Tribos do Rio Uaupés, dentre elas os Tariana podem ser encontrados ao longo de seu percurso, até desaguar no Rio Negro. Localização da nascente do rio: 2° 3′ 0″ N, 72° 53′ 0″ W

História editar

Os Tariana não são originários da região do Vaupés. Não se sabe ao certo, mas a cultura oral dos índios e seus mitos indicam que seus antepassados teriam chegado na região por volta de 1600 através de um dos afluentes do Rio Içana, provavelmente o Aiari.[2]

Pouco se sabe sobre o passado deste grupo étnico. Contudo Alexandra Y. Aikhenvald fornece uma compilação de períodos históricos importantes para o entendimento de como a tribo evoluiu e veio a se organizar como faz hoje.

"(i) Before 1500: The East Tucano tribes moved from the east into the Vaupés area, which was previously inhabited by Makú tribes; the East Tucano established dominance over the Makú.(The spread of some Tucano-speaking peoples to the Içana basin may have occurred at about the same time: see Aikhenvald forthcoming-c). The Baniwa of Içana were then living together with the Tariana in the Içana basin.

[ (i) Antes de 1500: As tribos dos Tucano Oriental se mudaram do leste para a área do Vaupés, que era previamente habitada pela tribo Makú; Os Tucano Orientais estabeleceram uma relação de dominação sobre os Makú. (A propagação de povos de língua Tucano na bácia do Içana pode ter ocorrido nesse mesmo período). Os Baniwana de Içana estavam na época vivendo juntamente aos Tariana na bacia do Içana. ]

(ii) Around 1600: the Tariana moved from the tributaries of the Içana river — thus splitting from the Baniwa of Içana — to the Vaupés region, in which the Tucano tribes were already established. This marked the beginning of the contact between East Tucano and Tariana; the contact between the Makú and the Tucano peoples was probably much older.

[ (ii) Por volta de 1600: Os Tariana se mudaram dos afluentes do rio Içana - e com isso se separaram dos Baniwa de Içana - para a região do Vaupés, no qual as tribos Tucano já estavam estabelecidas. Isso marcou o início do contato entre os Tucano Orientais e os Tariana; o contato entre os Makú e os Tucano já era provavelmente muito mais antigo. ]

(iii) Around 1750-80: the first contacts with Portuguese took place — this started the spread of Língua Geral as a lingua franca.

[ (iii) Por volta de 1750-80: O primeiro contato com os Portugueses teve início - isso fez com que a Língua Geral [ver Nheengatu] começasse a ser espalhada como a língua franca. ["Recebem o nome de língua geral, no Brasil, línguas de base indígena praticadas amplamente em território brasileiro, no período de colonização. A língua geral é uma língua franca. No século XVIII havia duas línguas gerais: língua geral paulista, falada ao sul do país no processo de expansão bandeirante , e a língua geral amazônica ou nheengatú, usada no processo de ocupação amazônica."[3]] ]

(iv) Around 1900: Tucano started to gain ground as a lingua franca of the area, with some Tariana settlements beginning to use mainly Tucano (see §3.3). This tendency was exacerbated by the Salesian missionaries (who established themselves in the Vaupés in 1925) who considered the traditional multilingualism a kind of uncivilised ‘savagery’ and made a point of imposing a one-people-one -anguage policy through the system of boarding schools for children where only Tucano was used and all other languages were banned. This resulted in the growing endangerment of indigenous languages other than Tucano in the Vaupés region, as well as in almost complete obsolescence of Língua Geral.

[ (iv) Por volta de 1900: Tucano começa a se estabelecer como uma língua franca da área, com alguns assentamentos Tarianas começando a usá-lo como língua principal. Essa tendência foi exacerbada pelos missionários Salesianos (que se estabeleceram no Vaupés em 1925), os quais consideravam a tradição do multilinguismo um tipo de selvageria incivilizada, e passaram a impor a política de um-povo-uma-língua através do ensino em escolas para crianças onde apenas o Tucano era usado e todas as outras línguas eram banidas. Isso resultou na ameaça de desaparecimento das demais línguas indígenas, que não o Tucano, bem como a quase completa obsolência da Língua Geral. ]"<br\> (Transcrição do texto de Alexandra Y. Aikhenvald[2] seguido de tradução livre.)

Língua editar

Os Tariana possuem sua língua própria e homônima: Tariana. Contudo, com o passar do tempo, essa língua vem sendo abandonada. Hoje, muitos membros da etnia utilizam a língua Tucano e o próprio Português. A região do rio Vaupés já foi considerada uma das regiões mais multilinguísticas de todo o mundo. Antes da intervenção do homem branco através das Missões Salesianas, cada pessoa sabia diversas línguas: a língua de seu pai (que era a língua com a qual o indivíduo se identificava), a lingua de sua mãe, a de sua esposa, e até mesmo as línguas de seus parentes e outros membros da comunidade. Curiosamente, o língua Tariana é a única língua do ramo Arawak falada na região. A língua Arawak está relacionada à família Taino, uma das primeiras línguas indígenas ouvidas por Cristóvão Colombo em 1492 na ilha de Hispaniola. Hoje a língua Taino é uma língua extinta. E a língua Tariana também corre esse risco. [4]

Os missionários Salesianos podem ser indicados como um dos principais responsáveis pela enorme diminuição da utilização da língua Tariana na região. Desde sua chegada na região dos Vaupés por volta de 1925, os missionário cristãos vem tentando "humanizar" os indígenas através da catequização e da imposição dos costumes ditos relativos ao "povo branco". Contudo, mais recentemente, os missionários parecem estar finalmente mudando sua relação com a cultura dos indígenas e aos poucos passam a promover a preservação de sua cultura e língua. A regra básica para a escolha da língua para a comunicação na região do Vaupés é a de que o indivíduo deve falar a língua do próprio interlocutor. Quanto ao ensino da linguagem para os progenitores, como a descendência para os Tariana é patrilinear, a língua ensinada para futuras gerações é sempre a língua do pai. Hoje a língua Tariana é falada apenas por algumas pessoas pertencentes ao subgrupo dos Wamia-riku-ne, que vivem nas vilas de Santa Rosa e Periquitos.

Cosmologia e Religiosidade editar

Os Tariana compartilham vários ritos em comum com as tribos com as quais teve contato, inclusive os Baniwa do rio Içana. A religião dos Tariana é primariamente animista.

Xamanismo editar

Os xamãs são divididos em 6 níveis, sendo os xamãs do primeiro nível os mais fortes, e os do sexto nível os mais fracos. Tudo que um xamã de nível inferior consegue fazer, um xamã de nível superior também consegue. Essa divisão em níveis está relacionada à habilidade do xamã em curar ou infligir doenças. O fumo está relacionado ao ato do xamanismo, e cada xamã, dependendo de seu nível, usa um tipo de fumo diferente. [2] Hoje a pratica do xamanismo está praticamente extinta. Isso é consequência da influência dos missionário Salesianos na região, que ridicularizavam, condenavam e marginalizam os conhecimentos e ritos originais da tribo e em seu lugar impunham a religião Católica. Isso fez com que muitos jovens Tariana se sentissem desencorajados a trilhar o caminho do xamanismo, fazendo com que a prática fosse aos poucos se perdendo ao longo dos anos.

Aspectos Culturais editar

Moradia editar

Tradicionalmente, os Tariana se organizavam em grandes malocas, compartilhadas por várias famílias. Contudo, com o contato dos missionários Salesianos, essa prática foi condenada e hoje os índios não vivem mais nesse tipo de moradia. Em seu lugar, foram adotadas as casas europeizadas, que abrigam famílias constituídas de maneira tipicamente nuclear, conforme os costumes ocidentais. [2]

Língua e Casamento editar

Enquanto viviam em uma região rica em linguagens, a regra de casamentos para os Tarianos tinha uma relação forte com a língua: como eles identificavam como irmãos aqueles que falassem a mesma língua, eles se casavam apenas com alguém que possuísse uma língua diferente da sua, contribuindo para que o casamento consanguíneo fosse evitado. Para algumas tribos de Tarianos ainda hoje perder a sua língua materna, ou no caso paterna, uma vez que a língua com a qual eles mais se identificavam é a língua do pai, é considerado uma vergonha. Para eles, perder a sua língua seria tornar-se "como os cães", ou seja, poderiam acabar se casando com seus irmãos ou irmãs.[4]

Subgrupos editar

Historicamente os Tariana são compostos por 10 subgrupos. Esse grupo possui uma hierarquia e sua denominação está fortemente relacionada aos seus mitos, principalmente o da gênese, como se pode observar através da tradução do nome de cada subgrupo. Contudo, nem todos os significados podem ser extraídos dessas traduções, e algumas dessas denominações perderam o seu significado com o passar do tempo. Os subgrupos Tariana são:

1. Kwenaka, "descendentes do primeiro filho"
2. Itfirimhene, "descendentes do segundo filho";
3. Kali-ne, possivelmente "descendentes de Kali", o criador;
4. Paiphene, significado desconhecido;
5. Kumandene, "Patos" ou "Pessoas do Pato";
6. Mali-ne, "Jacus"
7. Kunuli-whi, "pai do pássaro Kúnuli";
8. Phitfi-kawa, "pessoas de gouti";
9. Yawyari, "pessoas de jaguar";
10. Wamia-riku-ne, "as pessoas do lugar de onde flutuamos".

Essa classificação pode ser encontrada livro "A Grammar of Tariana, from Northwest Amazonia"[5]<br\> Hoje, apenas alguns membros do subgrupo Wamia-riku-ne falam a língua Tariana. Todos os outros subgrupos perderam contato com a língua Tariana, sendo esta tendo sido substituída principalmente pela língua Tucano.

Medicina tradicional editar

Tradicionalmente são os xamãs os principais responsáveis pela cura das doenças dos índios Tariana. Alguns outros fora da hierarquia xamânica também possuem o poder da cura, como os ka-^apa, "aquele que abençoa" e os tape-kani, "curador; aquele que pode curar doenças". [2] A maioria das curas realizadas por esses indivíduos estavam fortemente ligadas aos rituais por eles realizados, muitos hoje esquecidos.

Curiosidade: "Medicina moderna" editar

"Tarianas do AM são primeiras enfermeiras indígenas.<br\> Formadas na UEA, indígenas inovaram ao retornar às aldeias de origem, no Alto Rio Negro, para tratar dos 'parentes'." Link para a notícia

Situação territorial editar

Referências

  1. Povo Tariana. Portal Socio Ambiental. Página visitada em 23 de março de 2013.
  2. 2,0 2,1 2,2 2,3 2,4 Alexandra Y. Aikhenvald. Tariana texts and cultural context.. Página visitada em 15 de abril de 2013.
  3. Línguas Indígenas. Enciclopédia das Línguas no Brasil. Página visitada em 2 de junho de 2013.
  4. 4,0 4,1 Alexandra Y. Aikhenvald. Teaching Tariana, an endangered language from Northwest Amazonia. Página visitada em 11 de abril de 2013.
  5. Alexandra Y. Aikhenvald. A Grammar of Tariana, from Northwest Amazonia.. Página visitada em 17 de abril de 2013.

Ligações externas editar