Wikinativa/Tumbalalá
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Núria Alcine - Grupo: Leonardo, Núria, Raphael Neves, Raphael Reish, Nicolas, Daniel.
A tribo dos Tumbalalá se trata de uma comunidade indígena de aproximadamente 1.160 habitantes (Funasa, 2010), situada no povoado de Pambú, extremo Norte da Bahia, no nordeste brasileiro. O nome "Tumbalalá" é originário da expressão africana "tumba lá e cá", um canto de capoeira marcado por bastões e executado somente por homens. A comunidade é conhecida pelas suas missões ao longo do vale do Rio São Francisco. Foi reconhecida oficialmente pela Funai em dezembro de 2001, após reivindicações iniciadas em meados de 1998 e sua população ainda enfrenta diversas barreiras sociais.
Localização
editarApesar de ser encontrada no sertão baiano, a comunidade ainda não usufrui de territótio demarcado. Seus habitantes ocupam uma área onde, na antiguidade, ocoreram missões indígenas e colonização portuguesa. A aldeia localiza-se ao norte do estado da Bahia, entre os municípios de Curaçá e Abaré, na divisa com Pernambuco e às margens do rio São Francisco. Como referência, tem-se o pequeno povoado de Pambú, a ilha da Assunção (TI Truká) e a cidade de Cabrobó (PE).
Coordenadas: -8.55, -39.35
Mapa Interativo
editarHistória
editarConversa entre Ugo Maia e o Senhor Aprígio Fatum:
Ugo Maia - Agora me diz uma coisa, os encantos são os índios velhos, né?
Sr. Aprígio Fatum - Os antigos... Tem duas partes, né? Tinha os antigos quando o Brasil... quer dizer, quando veio os portugueses...
Ugo Maia - Quando não tinha branco ainda.
Sr. Aprígio Fatum - Não tinha branco. Só tinha eles (os índios) e as feras. Quer dizer que eles andavam mais as feras, né? Aí eles [...] saíam das matas, tinha aqueles que encantavam. Quando os portugueses chegaram, amansaram muito e morreu muito. Quer dizer que o senhor corta um pé de pau, quer dizer que ele bróia [brota?], né ? Que nem esse trabalho aqui.
Cícero Marinheiro - Foi cortado, parava uns tempo, mas ele broiô de novo.
Sr. Aprígio Fatum - Broiô, teve aquela paradeira, não sabe? daqueles trabalho, mas foi ele broiando de novo e está hoje nesse degrau, como Deus determina, né?
(Diálogo com dois homens tumbalalá sobre o recomeço dos trabalhos rituais do toré. Setembro de 1998. Retirado de Instituto Socioambiental http://pib.socioambiental.org/pt/povo/tumbalala/1081).
A formação da comunidade está diretamente relacionada com a história de tribos locais mais antigas. O ponto central é o intercâmbio político, cultural, ritual e algumas outras coisas entre esses povos antigos, permitindo que a partir dessa relação surgisse uma nova frente social identificada como Tumbalalá. Trata-se de um processo integrativo, que só foi possível devido à presença prolongada de famílias que se comunicavam de maneira inter-étnica, ou seja, compartilhando costumes, hábitos e conhecimentos. Contudo, processos históricos anteriores, como a vinda de colonos, escravos e o acontecimentos de diversas missões na região do sub-médio São Francisco contribuíram para que as diversas etnias locais se instalassem na região e posteriormente fundassem a tribo Tumbalalá, que ainda hoje não possui território demarcado oficialmente.
Pode-se dividir a formação da identidade Tumbalalá em dois períodos. O primeiro pode ser entendido como uma "pré-história" da comunidade, marcado pelos deslocamentos de famílias, instituições, pessoas, etc., que passam a ocupar o extremo sertão do São Francisco, região que se tornou o foco de diferentes populações na época, devido à distribuição de matéria-prima para regiões próximas. Já o segundo trata-se da já citada interação entre essas diversas etnias, que a partir de então deixam de ser comunidades isoladas para se tornarem uma única unidade social. Ainda existem grupos, como os Trukás, que vivem em comunhão com os Tumbalalás, mas possuem nomes diferentes. Nesse caso, as tribos possuem relações estreitas mas não se uniram como uma única identidade cultural. Cada uma possui seus próprios hábitos e costumes, embora haja trocas ritualísticas e parentais entre eles.
Organização
editarA forma como a tribo é administrada internamente não é muito complexa, se aproximando da organização da maioria dos povos indígenas, ou seja, não há nada muito distinto.
Social
editarNo que se refere à organização social, os Tumbalalá não possuem diferenças significativas com relação à população local não-indígena (grande influência do homem branco).
Política
editarSegue a tradicional organização indígena, tendo como líderes as figuras do cacique e do pajé.
O título de chefia é dado ao cacique, que não interfere em assuntos domésticos, exercendo influência apenas em questões externas, ligadas à comunidade como um todo. Seu papel é de extrema importância nas ações de interesse coletivo.
Língua
editarNa sua comunicação, utilizam o português, sem variações relacionadas a dialetos indígenas. Contudo, representam algumas expressões relacionadas aos rituais religiosos utilizando remanescentes do cariri, uma linguagem que era muito comum entre os povos que habitavam o sub-médio São Franscisco. Atualmente, o cariri não é mais uma língua falada pela população local, e por isso possui um estudo pouco aprofundado nos dias de hoje. A língua, bem como muitos outros aspectos culturais, está em constante diluição devido à pressão do homem branco e da cultura ocidental.
Cosmologia e religiosidade
editarA religião predominante é a católica e dentro do território indígena existe uma Igreja evangélica, administrada por não índios, mas frequentada por alguns membros da comunidade. Os rituais são baseados no culto aos encantos. Durante as cerimônias é ingerido um tipo de jurema, com o qual é feito o "vinho", e que possui algumas variedades presentes no universo religioso de comunidades afro-brasileiras.
Os encantos, ou mestres, tumbalalá são entidades sobrenaturais de índios política ou ritualmente importantes, que voluntariamente passam por um processo de "encantamento" após a morte. Também podem ser seres existem há milhares de anos e que mantêm comunicação com os homens através de sonhos ou de um mestre de toré que os incorpore. O "encantamento" ainda pode ser um estado de transição permitido a alguns mestres com capacidade suficiente para dominar forças sobrenaturais.
A cosmologia tumbalalá apresenta intensa polissemia na representação de seus símbolos (presença de vários símbolos no cosmos). Há vários empréstimos de outras tribos indígenas, o que revela a dinâmica relação externa desse povo. Contudo, a utilização de um símbolo aplicado à uma representação com algum significado local, torna possível a existência de uma identidade diferenciada dentro de uma unidade genérica. A identidade tumbalalá passa a ser exclusiva, apesar de unir diversas marcas de outros povos.
Aspectos culturais
editarA cultura Tumbalalá é composta pelos costumes, tradições, o toré, a pesca, entre outros. Comemora-se no dia 19/04 o dia do índio com uma grande festa. O artesanato também faz parte dos hábitos desse povo.
O toré como símbolo cultural
editarOs Tumbalalá tem como marco cultural religioso o toré, que é praticado de duas formas distintas: o toré privado, conhecido como mesa de toré, onde participam poucas pessoas, sendo realizado em local fechado, e o toré público, que é aberto e feito no terreiro apropriado. Nesse caso, a mesa é encomendada por alguém que deseja obter favores dos encantos. Geralmente, são feitos pedidos de cura para enfermidades de parentes próximos.
Para os povos indígenas do Nordeste, a rigor, uma mesa de toré é considerada o trabalho “da ciência do índio”, capaz de trazer revelações importantes através dos encantos. Ao contrário do toré no terreiro, que muitas vezes é denotado como uma “brincadeira de índio”, e que tem como um de seus objetivos a interação social.
Medicina tradicional
editarA saúde da comunidade é tratada de modo tradicional. Ao adoecerem, os índios buscam pelos remédios caseiros e as benzedeiras e, somente como última opção, procuram o médico na cidade. A realização de exames é um grande problema para esse povo, pois há uma distância significativa entre a solicitação do médico e a liberação do SUS. Faltam instrumentos adequados e não existem postos eficientes de saúde próximos a tribo, incumbindo na necessidade de atendimentos domésticos, realizados pelos próprios habitantes locais e alguns especialistas que visitam as aldeias de forma rotativa, ou seja, nota-se não ser algo constante e que previna ou resolva em determinados casos.
Situação territorial
editarApesar de serem encontrados no região do sub-médio São Francisco, ao norte do Estado da Bahia, os habitantes da tribo não possuem território demarcado oficialmente e ainda lutam por uma ocupação efetiva das terras locais, fato comum a várias tribos indígenas.
A área ocupada pela comunidade já foi atingida pelas barragens de Itaparica e Sobradinho, obras que não levaram em consideração a existência de uma população local na região, e hoje, os indígenas se encontram ameaçados pelo projeto de transposição do Rio São Francisco, que atinge diretamente a agricultura, a vida social e cultural desses povos, dependentes de meios naturais para sobreviverem. É um tema atual e que atinge de forma direta a existência dessa tribo.
Ligações externas
editarReferências bibliográficas
editarANDRADE, Ugo Maia. Etnogênese Tumbalalá. Identidade e Rede de Comunicação Interétnica no Sub-Médio São Francisco. In: ALMEIDA, Luís Sávio de; SILVA, Christiano Barros Marinho da(Orgs.). Indios Do Nordeste: Temas e Problemas: 500 Anos. Maceió : UFAL, 2004.
Povos Indígenas no Brasil - Tumbalalá. Disponível em: <http://pib.socioambiental.org/pt/povo/tumbalala>
Relatório Técnico - Tumbalalá 2011. Disponível em: <http://funai-ba-pa.blogspot.com.br/p/blog-page_2551.html>