Os Apurinã (Popingaré ou Kangitê como se autodenominam) são uma tribo indígena concentrada na região norte do Brasil, entre os estados do Amazonas, Rondônia e Acre. Os índios dessa tribo habitam as proximidades do rio Purus, ocupando sete municípios do estado do Amazonas e diversas terras indígenas em todo o território.


Apurinãs
População total

8.267 pessoas

Regiões com população significativa
Amazonas, Rondônia e Mato Grosso (Siasi/Sesai 2012)[1]
Línguas
Apurinã, Português
Religiões
Santo Daime, Catolicismo, Religião Ancestral Apurinã
Grupos étnicos relacionados
Campa, Uarequena, Uapixana, Curipaco, Machineri, Macuxi


Localização dos Índios Apurinã.

Localização[2] editar

Os índios apurinãs habitam, em massa, o baixo do Rio Purus que se estende pelos estados do Amazonas, Mato Grosso e Rondônia. Além dessa área, é possível encontrá-los em outras regiões do estado do Amazonas, onde se concentram em maior número. A grande diversidade na área permite a instalação da tribo, oferecendo garantia de água, diversos tipos de frutas e permitindo também a pesca para consumo próprio.

Veja no Mapa

Os Apurinã também estão em grande número em outras áreas como, por exemplo, o Lago Paricá, onde também vivem os índios Paumari, e Paumari do Lago Marahã, e uma com os índios Torá, na terra de mesmo nome. Essa dispersão ocorre porque, apesar de possuírem um número razoável de pessoas da mesma tribo, obtém a característica de serem povos migrantes e de viverem separadamente, mudando de localização de acordo com a necessidade.

História[3] editar

Dizem os pesquisadores que os viajantes e missionários, na segunda metade do século XIX, passaram a observar o comportamento da tribo dos apurinãs. Percebeu-se que, apesar de não habitarem a área de margens do Rio Purus, era de lá que retiravam parte dos alimentos que sustentavam a tribo e realizavam outros costumes, como o de se banhar, um costume comum entre muitas comunidades indígenas.

O primero contato com não-índios se deu por conta da exploração de borracha. O crescimento dessa atvidade levou aos arredores do rio Purus, seringueiros de todas as regiões. Durante o século XVIII, as "drogas do sertão" (cacau, borracha, etc.) levou a exploração da área do rio Purus, o que mudou as relações entre índios e não-índios. Nas decadas de 1850 e 1860 já existiam índios que estavam trabalhando para brancos, tanto para explorar os bens da floresta como mapear os locais de interesse.

A grande exploração teve início na década de 1870, e em 1880, o rio Purus e seus arredores já estavam povoados por não-índios. No mesmo período, teve início a exploração de borracha na Ásia, o que derrubou o comércio brasileiro, por não conseguir competir com preços e mão-de-obra. O mercado brasileiro só voltou a crescer com a Segunda Guerra Mundial, quando os serigais asiáticos estavam sob o poder do eixo. Nesse período, centenas de nordestinos foram levados para Amazônia para extrair borracha, pois os Estados Unidos precisavam e o governo estava financiando-os. Com o fim da guerra e dos subsídios, ocorreu uma nova queda da produção em 1985.


Língua editar

Dizem os estudiosos que a língua Apurinã se aproxima da língua da tribo indígena Machineri, que habitam na outra extremidade, a do alto rio Puru, no Brasil, e territórios peruanos também. Segundo alguns integrantes da tribo, na mitologia Apurinã, o conhecimento da língua, por eles chamada de Kaxarari, foi herdada em função da saída conjunta da Terra Sagrada.

Cosmologia e Religião editar

A Origem de Tudo - A História de Tsora[4] editar

A mitologia Apurinã se baseia na história de Tsora. Segundo a mitologia, Tsora é o criador de todas as coisas na terra, e a sua história conta o começo do mundo. Apesar de existirem várias versões, o mito não diverge muito a respeito do que se trata sua história. Tsora era filho de Yakonero, uma mulher que sempre dormia acompanhada por alguém, mas Tsora não sabia quem era. Na tentativa de descobrir quem era seu acompanhante, Tsora sujou as mãos de jenipapo e passou nas costas do desconhecido. Ao amanhecer, viu-se na tribo o katokana (canudo de rapé) do pajé pintado, e assim, Yakonero é expulsa da tribo.

Yakonero segue para a casa de seus parentes, e no caminho, Tsora, ainda em sua barriga, começa a pedir várias coisas. Yakonero, irritada, bate na barriga, e Tsora, com birra, muda a indicação, o que a faz parar nos Katsamãũteru, onde reside uma velha, que ajuda a esconder dos demais homens. A velha oferece a Yakonero uma cuia, e como esta estava gravida, cuspiu tudo, o que fez com que os homens a percebessem.

De Yakonero são gerados 4 filhos, incluindo Tsora, gerados de um galho de algodão. Tsora é o mais fraco e o menor de todos, porém, é o mais engenhoso e poderoso de todos os seus irmãos, que decidem partir para matar cada um dos matadores de sua mãe com armadilhas.

Tsora criou as pessoas e seus diferentes tipos, e aplicou uma sequência de testes aos quais os Apuninã sempre se saiam piores do que brancos e demais índios. Apesar de serem definidos como "o melhor que tem", a história contesta, pois os Apurinã saõ poucos e divididos. Essa história explica a origem de tudo que existe hoje, sendo de extrema importância para tal povo.

Rituais[5] editar

As festas Apurinã recebem o nome de Xingané (em Apurinã, kenuru), envolvem desde pequenas cantorias noturnas até grandes eventos, com convites para outras aldeias, muita comida, vinho de macaxeira, banana, patauá e combustível para os participantes. As festas dependem da ocasião: são feitas festas para acalmar a sombra de um morto, na seqüência e nos anos seguintes do falecimento, etc.

O Xingané tem início com um ritual de confronto. Tanto convidados como residentes se pintam, vem armados e enfeitados pela mata. Chegam juntos e gritando, e os líderes ficam frente-a-frente, dando início a uma discussão alta, sempre com armas apontadas um para o outro, assim como a de seus acompanhantes. Finalmente, abaixam as armas, o tom da voz, e os líderes tomam rapé na mão um do outro.

Aspectos Culturais editar

A importância dada ao Pajé é uma característica muito forte na cultura Apurinã. Na tribo, o futuro "mestre" é submetido ao treinamento rigoroso, para que assim, no futuro, venha a ser um bom líder para a tribo e para que saiba agir com sabedoria e segurança nas mais diversas situações. Parte do "treinamento" envolve a ida para a floresta e a convivência fora do meio comum com os demais indígenas. Assim, os ensinamentos, a coragem e a sabedoria podem ser desenvolvidos pelo futuro líder, ajudando-o a viver com o básico.

A cultura alimentar do grupo é similar a de outros grupos que se encontram na Amazônia. Sendo a floresta vasta e o território provido do Rio Purus, a alimentação é baseada principalmente na pesca, e também na coleta de frutos e demais alimentos que a mata possa lhes oferecer.

Situação Atual editar

Atualmente, o extrativismo é considerado atividade essencial para a tribo, servindo assim como fonte econômica. A partir de folhas, castanhas e outros "proveitos" retirados da mata, o grupo fabrica cestas e outros artigos de artesanato. Tal atividade resgata não só a união da tribo, como também seus aspectos culturais mais tradicionais.

Há também, Apurinãs trabalhando com o Grupo de Pesquisa e Extensão em Sistemas Agroflorestais do Acre (PESACRE), em busca de uma melhor forma de extrativismo e utilização dos recursos naturais. Essa iniciativa visa o futuro, as gerações futuras e a renda de suas familias mais a frente, algo que, se não for feito com cuidado, pode acabar com os recursos naturais da região, forçando a retirada e grandes mudanças em seus hábitos (culturais e modo de viver).

Medicina Tradicional editar

Na cultura Apurinã, o princípio da cura e da causa das doenças são as pedras, conhecido como Xamanismo. Elas podem, a mesmo tempo, matar e ser a salvação. O pajé, responsável pelas curas e tratamento de doentes, inicia um treinamento na selva, sozinho, onde se deve ficar em jejum ou comendo muito pouco, evitar relações sexuais e mascar katsoparu.

Quando o pajé está pronto, ele passa a introduzir em seu corpo, pedras que recebe ou que retira de seus pacientes. O pajé cura utilizando katsoparu, folha que se masca, e awire, rapé. Geralmente, cada pajé tem o seu, mas é costume o responsável pela ocasião providenciá-los. O pajé deve mascar o katsoparu e tomar muito rapé. As sessões de cura podem ser realizadas de forma privada, na casa do doente, mas todos costumam conversar antes que o pajé dê início à sessão.

É comum o pajé explicar qual é o problema e o que vai fazer, intrduz a pedra no corpo, e depois recomenda o tipo de tratamento que será realizado, que pode ser com folhas e plantas em geral, mas também com remédios de farmácias.

Situação Territorial editar

A situação territorial atual dos Apurinã em relação a terras se resume na defesa de seus territórios. Desde o século XVIII, quando houve a primeira invasão de terras, a defesa do território em que vivem se tornou mais difícil, principalmente com a chegada do homem branco, que tinha ferramentas e armas para atacar. Naquela época, o foco de exploração eram as seringueiras, que obtém a matéria prima da borracha.

Atualmente, os maiores inimigos dos Apurinã são os madeireiros. A área na qual os índios estão situados é boa em vários aspectos: recursos hídricos, disposição de árvores boas para diversos fins e a fraca fiscalização atraem madeireiros de todo o país em busca dessas áreas, que deveriam ser fiscalizadas e protegidas.

Referências

Fontes editar

http://pib.socioambiental.org/pt/povo/apurina/82

https://pt.wikipedia.org/wiki/Apurin%C3%A3

http://www.amazonlink.org/amazonia/culturas_indigenas/povos/apurina.html