Brasil, um relato de tortura (1971)
Análise de Filme - Turma 2023
editarAnálise de Filme I - Mariana Hana Tino de Assis
ROTEIRO DE ANÁLISE
editarDisciplina: História do Brasil II - Prof. Paulo Eduardo Teixeira
Aluna: Mirella Custódio Nazaré
Ciências Sociais – 2022 – Turma Matutino ( X )
FICHA TÉCNICA
editarAno: 1971
País: EUA
Gênero: Documentário
Duração: 59min23seg
Direção: Haskell Wexler e Saul Landau
Roteiro: Gustavo Moris, Pepe Delavega e Jorge Muller
Fotografia: Bob Estrin e Chris Burrill
Trilha sonora: Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores – Geraldo Vandré
Produção: Haskell Wexler e Saul Landau
Idioma original: Inglês Americano
IDEA INICIAL - HISTÓRIA
editar1- O filme conta uma história. Sobre quem?
editarO documentário aborda as torturas realizadas em presos políticos na ditadura brasileira de 1964. Expõe relatos dos 70 guerrilheiros presos que foram liberados para o Chile, em exílio político, em troca da vida do embaixador suíço que estava em território brasileiro, em 1970/1971.
2- Quais são as personagens principais?
editarOs personagens principais são os combatentes, que contam e demonstram em câmera as agressões que sofriam enquanto presos no DOPS, órgão criado a favor da repressão como instrumento punitivo.
3- Qual delas mereceu a sua atenção?
editarA personagem que me chamou mais atenção foi Maria Auxiliadora Lara Barcelos, jovem de 25 anos, nascida em Minas Gerais. Maria foi enganada por vizinhos e encurralada por agentes do DOPS, que bombardearam sua casa com tiros e bombas enquanto estava dentro da mesma com mais dois companheiros. A jovem conta que tinha em casa todas as armas usadas em guerrilhas urbanas, e assim, antes de serem pegos pelos policiais, revidaram com bombas caseiras e balas também. Lara conta com detalhes todos os tipos de tortura que sofreu, narra os choques elétricos, telefones e palmadas com um sorriso no rosto, e quando questionada sobre diz que é apenas uma forma de expressão, mas que não acha graça nenhuma na situação. Maria parece terminalmente aérea enquanto fala, mas ainda sim com os pés no chão. Cita não ter sentido medo dos policiais ou militares, mas sentia raiva por estar presa naquela situação e por ter se sentido enganada. A mulher também relata como os torturadores à disseram que o objetivo era mesmo mudar o seu rosto, na intuição de deformá-lo, e ela afirma que eles conseguiram. Maria foi torturada junto ao marido e diz que só o viu depois de um ano, sendo torturado mais uma vez, quando estavam perto do seu julgamento. Maria me impressiona com tamanha força e assertividade, no final do documentário, quando questionada sobre o que gostaria de fazer depois de tudo o que aconteceu, ela afirma prontamente que quer voltar para o Brasil assim que possível.
4- Como termina o filme? O que você achou sobre ele e porquê?
editarConsidero o documentário muito forte. São narrativas muito fiéis aos fatos, eles não têm medo de contar sua história e as lembranças definitivamente são quase que visíveis através do olhar de todos eles. O documentário termina com uma gota de esperança, com o cheiro no ar de que a luta ainda continua, a música de Geraldo Vandré no final, em minha opinião, foi uma escolha sábia. Boatos de que o cantor, após o exílio e supostas torturas (negadas por ele), teria enlouquecido. Renegou o rótulo de protestante e disseque só fazia música brasileira, mas o que isso significa, não? A questão que fica no ar me intriga e eu gostaria de saber o desfecho da vida dos combatentes que apareceram nas filmagens.
TEMA DE FUNDO - TESE
editar1- Quais são os temas tratados no filme?
editarTortura, DOPS, guerrilha e política.
2- Em que cena compreendeu o tema de fundo do filme?
editarJulgo que desde o começo a compreensão do tema é inevitável, o documentário não procura deixar nenhuma dúvida no ar sobre o que aconteceu com os seus sujeitos de pesquisa. Não existe uma cena que me fez ter um ‘start’ sobre o que tudo seria, o documentário foi desenvolvido com clareza e maestria.
3- Qual o problema ou questão que foi tratada mais demoradamente?
editarAs demonstrações de tortura que os combatentes fazem são detalhadas e definitivamente carregaram um tempo de filmagem ao longo da exibição.
4- Os realizadores descreveram bem os protagonistas?
editarDefinitivamente, consegui memorizar a história de cada um à medida que os entrevistadores questionavam a jornada dos mesmos. O padrão que eles seguem ao perguntar primeiro o nome, em seguida a idade e como ou porquê foram presos deixa a compreensão da descrição mais fácil ao longo do documentário
RITMO E MONTAGEM - EDIÇÃO
editar1- Qual a cena ou seqüência que mais chamou sua atenção ou lhe impactou? Porquê?
editarAs cenas que mais me incomodaram ao decorrer do documentário foram as de demonstração de tortura. Julgo o conhecimento dos métodos importantíssimo para conhecermos a dor do próximo mas acredito que nem todos tem o estômago para presenciar visualmente como tudo acontecia.
2- Houve algo no filme que te aborreceu? Em que parte do filme? Eram cenas de diálogo ou de ação?
editarDe fato, me interessei pela história de mais pessoas e me aborreci pois sinto que elas não tiveram tempo suficiente de tela para que eu conseguisse me aprofundar no conhecimento da narrativa deles. Mas por outro lado, entendo que ao decorrer das cenas de diálogo, nem todos se sintam confortáveis para falar por tudo o que passaram como Maria Auxiliadora ou Sonia Yessin.
3- Qual a cena/seqüência que não foi bem compreendida por você? Porquê?
editarComo citado anteriormente, julgo a sequência clara e autoexplicativa
MENSAGEM
editar1- O que é proposto pelo filme é aceitável ou não? Porquê?
editarSim, o filme propõe a propagação das informações jogadas para debaixo do tapete pelo sistema.
2- A quem se dirige, em sua opinião, o filme?
editarNa minha opinião, a todos. A consciência sobre esse tipo de informação é crucial para a formação de caráter político.
RELAÇÃO COM A DISCIPLINA DE HISTÓRIA DO BRASIL
editar1- Qual a contribuição do filme para sua compreensão da disciplina e do período estudado?
editarO documentário ilustra muito bem o assunto que o professor vem abordando em sala. Já estudei o regime militar e as torturas antes, por conta própria, quando estava no final do Ensino Fundamental, mas tenho consciência de que não tinha maturidade o suficiente para entender de fato o que acontecia no período, agora, poder estudar esse assunto no sistema da graduação me abre os olhos para a compreensão da pauta e da disciplina.
2- Relacione as contribuições desse trabalho para sua formação.
editarDesde antes de decidir ingressar na graduação em Ciências Sociais eu procurava um curso que pudesse me oferecer conhecimento, à cima de um emprego, como todo mundo que ingressa na graduação procura. O curso de CS me propõe isso, conhecimento e era isso que eu queria, acredito que é essa a contribuição desse trabalho para a minha formação acadêmica e intelectual.
ANÁLISE DE FILME
editarDisciplina: História do Brasil II - Prof. Paulo Eduardo Teixeira
Aluna: Pamela Bianca Santos de Oliveira
Ciências Sociais – Turma Matutino
UMA ANÁLISE DO DOCUMENTÁRIO BRASIL, UM RELATO DE TORTURA 1971
editarO documentário Brasil, um relato de tortura 1971, narra as experiências de um grupo de setenta presos políticos brasileiros, trocados por um embaixador suíço durante o período da Ditadura Militar que se exilaram no Chile. As cenas, filmadas no Chile após a chegada dos setenta presos políticos, são compostas pelos relatos e testemunhos daqueles que vivenciaram uma das experiências mais traumáticas do período, a tortura. Ao longo do documentário algumas das vítimas são apresentadas ao telespectador narrando suas experiências desde o momento em que são abordadas pela polícia até as formas de tortura utilizadas, reproduzindo em cena alguns desses momentos. Os testemunhos aos quais o documentário se ateve são de Maria Auxiliadora Barcelos, cuja presença, relatos e falas se apresentam ao longo de todo o documentário, Frei Tito, Sonia Yessin Ramos, Nancy Mangabeira Unger, Jean Marc Van der Weid, Antonio Expedito Pereira, Manuel Dias Nascimento e Jovelina Tonello do Nascimento, entre outros.
Brasil, um relato de tortura 1971 é um documentário que propõe denunciar ao mundo, as crueldades de um regime autoritário, antidemocrático e de modus operandi extremamente desumano, que se baseava na censura, na caça e na tortura de quem se opunha ao mesmo. Lançado em 1971, momento em que o Brasil ainda vivenciava o regime ditatorial militar (que se encerra apenas por volta de 1985), o documentário se apresenta como um pedido de socorro e por intervenção de outros países em um momento tão violento, além de atuar diretamente na preservação dessas memórias. Um momento da história do Brasil que jamais deve ser esquecido para que nunca mais ocorra.
Apesar dos relatos e testemunhos da violência e das experiências traumáticas, o documentário oferece uma perspectiva de mudança e de esperança que é evidenciada principalmente na fala de encerramento do mesmo, realizada pela Maria Auxiliadora e na forma como aqueles que vivenciaram o terror da ditadura se reinserem socialmente e aos poucos procuram retomar as suas vidas (aspectos possíveis de serem notados ao longo das cenas e nas interações entre os indivíduos presentes nela).
O documentário Brasil, um relato de tortura é um registro que denuncia e expõe a violência da ditadura militar, se baseando nos relatos e testemunhos das próprias vítimas dela. Como denúncia, ele objetiva a difusão dessas memórias e como documentário histórico ele tem a pretensão de que tais crueldades jamais sejam esquecidas para que nunca mais sejam repetidas.
Duas cenas do documentário permitem compreender com clareza as suas pretensões. A primeira delas é quando a participação de crianças ao longo da composição das cenas é mostrada. Essas crianças não estavam presentes apenas nos momentos em que os relatos eram contados, mas também nos momentos em que a reprodução de algumas formas de tortura era realizada. A interação entre a memória vivida e a memória lembrada: a composição da memória histórica e sua atuação no não esquecimento. Já a segunda cena é composta pela forma verbalizada das intenções das filmagens, na qual um dos entrevistados destaca que as participações no documentário são primeiro como denúncia ao contexto ditatorial do Brasil no momento, cujos companheiros ainda seguiam perseguidos e torturados e como composição de uma memória que não deve ser desconhecida e/ou esquecida pela humanidade. Para tanto, os testemunhos e a própria forma que o documentário retratou enfaticamente as torturas, com detalhes das perseguições, das abordagens policiais, do envolvimento das famílias, amigos e conhecidos dos presos políticos que eram também capturados e torturados como forma de tortura psicológica a eles, evidenciam a dor, sofrimento e angústia inegavelmente e incomensuravelmente vivenciada por eles. Ao mesmo tempo que também devem ser consideradas suas ousadias, a sede por transformação, o companheirismo e o sentimento de luta, de resistência e revolucionário de quem almeja um Brasil em que o viver e o viver bem seja um direito incontestável e pertencente a todos.
Como um documentário e como um documentário histórico que se baseia nos testemunhos reais das vítimas, uma história vista de baixo, que manifesta a voz daqueles que foram oprimidos e reprimidos pelo sistema, ele tem uma importância inegável e mais. No entanto, considerando o ano em que ele foi lançado, 1971, a forma como a internet possibilita o seu acesso, o atual contexto histórico, político e social, toda essa importância histórica se vê sob os limites de um público muito específico que se volta para esse tipo de conteúdo. O que restringe em muito o acesso a esse tipo de história. Além disso, o seu conteúdo pode não ser digerível por todos, já que muitos dos relatados da tortura são ricos em detalhes e, por vezes, acrescentam reproduções dos mesmos. No entanto Brasil, um relato de tortura, é um documentário didático de forma geral, explicativo e expositivo e agrega principalmente à medida em que apresenta algumas perspectivas da história: a memória vivida, a memória lembrada, memória individual/memória coletiva e memória de um grupo, a composição de uma memória histórica, as perspectivas e narrativas diversas de um fato histórico e a manipulação deles (a considerar a forma com a ditadura tem se “popularizado” atualmente). Além das perspectivas em História do Brasil e da ditadura militar.