Laboratório de Jornalismo Multimídia/Apresentação/Grupo 5

São Gabriel e seus demônios

A reportagem "São Gabriel e seus demônios", publicada pelo veículo "Agência Pública", é composta por um extenso texto entrecortado por poucas imagens, giphys e uma ilustração. Tanto a autoria da reportagem, quanto das imagens e giphys, pertence à Natalia Viana, já a ilustração foi feita pelo artista Feliciano Lana. A leitura de todo texto pode ser feita em 30 a 40 minutos.

Resumo

A reportagem São Gabriel e seus demônios busca compreender alguns dos motivos para o município ser o mais indígena do país e também ser o com maior índice de suicídios entre eles. O assunto acabou sendo banalizado na região, mas muitas questões são abordadas por trás disso, como a religião.

Análise sobre a apuração

Na reportagem “São Gabriel e seus demônios” a jornalista Natalia Viana utiliza tanto fontes primárias como secundárias para  investigar e apurar o porquê o maior munícipio indígena brasileiro, localizado ao noroeste do Rio Amazonas, tem a maior taxa de suicídios do país.  A jornalista falou com parentes de jovens que se suicidaram e moradores das cidades de São Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel, um pastor, pajés, psicólogos, psiquiatras, antropólogos e militares. Conversar com os parentes dos jovens indígenas que se suicidaram foi imprescindível para a realização da reportagem por mostrar como o suicídio é encarado pela comunidade indígena e suas consequências no seio familiar.

Dados utilizados na reportagem foram retirados dos números apresentados pelo Mapa da Violência da Secretária Geral da República, um levantamento sobre tentativas de suicídio feito pelo Distrito Sanitário Especial Indígena do Rio Negro, uma pesquisa realizada pelo Instituto Socio Ambiental e a Foirn, dados do Conselho Missionário Indigenista, além de outras pesquisas. Analisando dados, Viana pode constatar que muitas tentativas de sucídio não estão registradas em lugar nenhum, como as dos parentes de Almerina Ramos Lima, índia Tariana.

Para explicar o presente, Viana precisou contextualizar o passado da região, marcado pela existência de colonos portugueses no século 17 que escravizaram mais de 20 mil indígenas e mataram os que resistiam retratando o encontro violento com os brancos. No século passado, a presença da Congregação Salesiana no Rio Negro e seus internatos marcou a vida dos índios moradores da região proibidos de falar em suas línguas nativas e manifestar sua cultura.  Para mostrar o tamanho da influência dos padres e freiras salesianas, a jornalista utilizou estimativas de jornais da época, incluído a Folha de S. Paulo. Além das informações obtidas nos impressos, Viana conversou com Elza, índia tucana, que relatou restrições e castigos sofridos dentro de um internato salesiano.

Descrição dos formatos

Pela extensão da matéria, o texto é dividido com títulos e subtítulos, como uma forma de separar a história em capítulos. Com enxertos e links, a jornalista fomenta as informações dadas ao longo da reportagem e apresenta diversos dados, seguindo uma ordem não cronológica, mas explicativa, de forma que ela apresenta os fatos e os casos de suicídios dos jovens indígenas de São Gabriel contando suas histórias, entrevistando as famílias, dando voz às pessoas que perderam seus entes, assim procurando mostrar sua trajetória e por fim, as possíveis causas.  

Um diferencial dessa matéria é o fato de que toda vez em que um novo personagem é apresentado, ele é representado por uma imagem em GIF e não apenas uma imagem estática, como geralmente encontramos em outras reportagens, o que torna mais próxima e real a presença daquela pessoa na história. Ao longo do texto, podemos encontrar diversas falas das pessoas que vivem na região juntamente com um GIF com a imagem de seu rosto para apresentá-las ao leitor, assim como quando a autora aborda o tema desde o início da história da região, contando sobre os internatos nos quais parte da população indígena foi criada e catequizada, ela faz o uso de imagens de um documentário chamado “Remições do Rio Negro” de Erlan Souza e Fernanda Bizarria, também em GIF. Os únicos formatos de mídia utilizados na matéria são fotografias da região do rio Negro, ilustrações (já presentes no início da matéria) e os GIF’s, a reportagem é bem extensa e não apresenta o uso de vídeos, áudios ou algum outro tipo de recurso de mídia.

Análise do formato usado na reportagem

A Reportagem de Natalia Viana é informativa e cumpre muito bem esse papel. De cara o título já nos chama atenção (São Gabriel e seus demônios), que leva o leitor a ter a curiosidade de entender o que são esses “demônios”.

O início da reportagem já nos impacta com o relato do suicídio de uma jovem ribeirinha. O interessante é a escolha da jornalista, que preferiu justificar esses “demônios” logo no início com o uso de relatos de jovens se suicidando e todo o misticismo cultural da região que demoniza buscando justificar o que levou esses jovens a tirarem suas próprias vidas.

Creio que a autora foi muito feliz na escolha das informações secundárias que agregam e contextualizam o assunto principal.

A linearidade vem ao longo da texto, após o fato principal ser destacado, esse uso tem como objetivo mostrar como começou essa onda de suicídios e demonstrar como a população local se sentiu a cada caso que surgia. Um grande trabalho de imersão da repórter no história.

A autora fez o papel do jornalismo investigativo de forma impecável. Ela cita as várias possíveis causas do problema, entre elas a questão mística (o homem da capa preta), a falta de políticas públicas de saúde da prefeitura da cidade para solucionar esse problema e o êxodo rural dos estudantes em busca de educação acadêmica.

Além disso tudo, a inserção de histórias de moradores da região enriquece a reportagem de uma maneira que torna São da Gabriel da Cachoeira um lugar único e inusitado, com uma riqueza cultural imensa e bem diferente dos padrões.

A construção histórica na reportagem é muito rica, ela traz uma inserção histórica sobre a cidade e toda a questão da chegada do homem branco na região, dos constantes conflitos, do fato de fazer fronteira com dois países de suma importância na América Latina.

Na minha visão, Natalia Viana conseguiu perfilar todo um povo de uma forma que os relatos expressos na reportagem são o principal e a jornalista se tornou apenas a pessoa a organizar as histórias e mostrar todos os pontos de vista, dando voz à realidades caladas no nosso país.

Conexão com as redes sociais

A Agência Pública possui perfil no Twitter, Facebook, Youtube e Instagram, demonstrando que há um forte engajamento do veículo nas redes sociais. A conexão entre o público e o veículo é maior no Facebook e no Twitter, com 197.595 seguidores e 142 mil seguidores, respectivamente. Já no Youtube, são quase 12 mil inscritos e 16,8 mil seguidores no Instagram. No Twitter e Facebook as reportagens são publicadas com uma linha-fina resumindo a matéria e o link para que o leitor consiga acessá-la, e fica fácil para que o público possa comentar e dar sua opinião. No Youtube estão disponíveis vídeo-reportagens de diversos temas já abordados na Agência Pública, a reportagem “São Gabriel e seus demônios”, especificamente não tem um vídeo no Youtube, mas há um sobre a reforma agrária em São Gabriel, que também aborda questões indígenas. No Instagram, utilizam recursos fotográficos para divulgar suas matérias, considerando que é uma rede social de fotos, é preciso saber escolher para chamar a atenção do público; também é utilizada a ferramenta “stories” onde geralmente criam uma arte sobre a reportagem em questão.

Bárbara Moura- Resumo e Conexão com as redes sociais

Caio Viana dos Santos- Análise dos formatos

Gabriela Junqueira- Análise da apuração

Giovanna Favero- Descrição dos Formatos

Giulia Chechia- Identificação da matéria e avaliação