Sociologia e Comunicação/Campos Soociais
Campos Sociais
editarA ideia dos campos sociais aparece com Kurt Lewin. Ela representa uma espécie de campo de forças que tem um poder de atração sobre quem se submete a ele e que funciona segundo determinada lógica.
O sentido de uma ação individual depende das relações de sentido estabelecidas entre os agentes de um campo.Podemos falar de um campo político, literário, acadêmico, religioso e seus sub-campos. No campo da Comunicação, temos sub-campos do Jornalismo, Relações Públicas, Audiovisual, Publicidade etc.
Características
editar1. É universo relativamente autônomo e objetivado no mundo social. Quando usamos a expressão “o mundo da moda”, por exemplo, estamos falando de um campo. O campo da moda é “objetivado” porque ele se materializa em revistas, nas maisons, nos desfiles etc.
2. Todo campo tem uma história. Ele é o resultado de um lento (e, às vezes, tenso) processo de depuração por meio do qual vai definindo suas regras, seus limites e as condições necessárias para ingressar nele.
3. A formação de um campo cria uma espécie de espaço no qual encontramos as pessoas ocupando determinadas posições ou lutando para ocupar determinadas posições. Existem lutas no interior de um campo para mudar as próprias regras do campo. Existem estratégias de alianças entre membros antigos e membros novos de um campo. As pessoas sempre sofrem um processo de envelhecimento nesse espaço. Esse envelhecimento pode levar a um esquecimento dessas pessoas ou pode transformá-las em “clássicos”, isto é, pessoas que são sempre lembradas quando se fala de um campo.
4. Esses espaços costumam exigir das pessoas que ingressam neles (ou que pretendem ingressar neles) certos tipos de capitais. Para os que aceitam pagar um certo “preço de entrada” no campo, essa experiência acaba por produzir o que Bourdieu chama de uma Illusio, um certo encantamento pelo jogo que se joga nesse campo específico. Mas, para jogar bem esse jogo, faz-se necessário, também, a aquisição de um habitus profissional muito particular. É como se essas pessoas tivessem de incorporar um certo jeito de jogar esse jogo. Interiorizar suas regras e lógicas. Aprender a entender o que está em jogo nesse campo.
5. Os campos produzem e reconhecem certas práticas, objetos e rituais de reconhecimento e de consagração próprios. Podemos ver isso nos Congressos, Encontros e premiações dos mais variados tipos que visam promover o encontro e a promoção dos principais destaques de um campo. Eles servem, além disso, para renovar a fé e a crença na continuidade do campo.
6. Ele produz e reconhece, também, um campo discursivo próprio. Trata-se de um código ou uma linguagem particular que se torna mais ou menos especializada e que só os seus detentores parecem entender o que significam e como usá-las. O Direito, por exemplo, é um caso extremo em que esse código, essa linguagem, tem uma força impressionante. Dominá-la é desenvolver um tipo particular de capital.
Vamos desenvolver um pouco melhor algumas dessas ideias sobre os campos sociais.
Illusio
editarEm primeiro lugar é preciso resgatar a metáfora do jogo para pensarmos os campos sociais. A palavra jogo, etimologicamente, vem da palavra-raiz latina ludus, a mesma que dá origem a palavra Illusio.
A Illusio, uma espécie de encantamento pelo jogo que se joga neste campo social é fundamental para que ele faça sentido, ou seja, para que os agentes sintam interesse e motivação para jogá-lo.
A illusio significa, portanto, estar preso ao jogo, preso pelo jogo, acreditar que o jogo vale a pena. Nos respectivos campos sociais, os jogos sociais tendem a se fazer esquecer como jogos porque seus agentes estão envolvidos com ele. Por isso, o que é vivido como algo normal para as pessoas de um determinado campo pode parecer sem sentido para quem não participa dele.
Aqueles que estão bem ajustados aos seus campos, ao jogo que se joga neles, dominam a sua lógica e atuam em vantagem por melhor compreender como funcionam. Para jogar esse jogo é preciso incorporá-lo de alguma forma.
Habitus dos agentes de um Campo
editarExiste um habitus ajustado ao funcionamento dos campos, um certo modo de perceber e de jogar o jogo. Portanto, quando nos envolvemos por um determinado campo e aprendemos a jogá-lo, a lógica do que fazemos não precisa ser destacada explicitamente.
A maior parte do que aprendemos é adquirida de forma implícita. Isso permite que nossas ações não pareçam calculadas o tempo todo ou até mesmo cínicas. O bom jogador – como o jogador de tênis, por exemplo – não somente sabe onde a bola está, mas onde ela vai cair. Isso permite que antecipe as suas jogadas e a dos outros agentes do campo.
Será possível perceber a incorporação do habitus de um campo quando você sentir que o Campo está dentro de você.
Isto significa que você, sem perceber, vai enxergar o mundo pelo viés ou pelos ângulos considerados relevantes para quem vive no seu Campo. Um sociólogo, por exemplo, passa a ver "sociologia" no seu cotidiano, nas animações, nos filmes que assiste, nos dados que vê e nas músicas que ouve.
Referências
editarBOURDIEU, Pierre. Algumas propriedades dos campos (Exposição feita na Ecole Normale Supérieure, em novembro de 1976, para um grupo de filólogos e historiadores da literatura)
CATANI, Afrânio Mendes. As possibilidade analíticas da noção de campo social. Educ. Soc. , Campinas, v. 32, n. 114, p. 189-202, jan.-mar. 2011
FERREIRA, Jairo. Mídia, jornalismo e sociedade: a herança normalizada de Bourdieu. Estudos em Jornalismo e Mídia. Vol.II Nº 1 - 1º Semestre de 2005
JANOTTI Jr, Jeder (org.) Cenas Musicais. Guararema, SP : Anadarco, 2013. (Coleção comunicações e cultura)
MICELI, Sérgio. Bourdieu e a renovação da sociologia contemporânea da cultura. Tempo soc. vol.15 no.1 São Paulo Apr. 2003
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