Sociologia e Comunicação/Estudo 7

“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!/Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!/Em fúria fora e dentro de mim,/Por todos os meus nervos dissecados fora,/Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!/Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,/De vos ouvir demasiadamente de perto,/E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso/De expressão de todas as minhas sensações,

/.../

Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!...Eia! eia! Eia!/Eia eletricidade, nervos doentes da Matéria! /Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do Inconsciente! /Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez! /Eia todo o passado dentro do presente! /Eia todo o futuro já dentro de nós! eia! /Eia! eia! eia! /Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita! /Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô! /Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me. /Engatam-me em todos os comboios. /Içam-me em todos os cais. /Giro dentro das hélices de todos os navios. /Eia! eia-hô! Eia!/Eia! sou o calor mecânico e a electricidade!...”

(Álvaro de Campos. Ode Triunfal).



A uma passante

A rua em torno era um frenético alarido.

Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa,

Uma mulher passou, com sua mão suntuosa

Erguendo e sacudindo a barra do vestido.


Pernas de estátua, era-lhe a imagem nobre e [fina.

Qual bizarro basbaque, afoito eu lhe bebia

No olhar, céu lívido onde aflora a ventania,

A doçura que envolve e o prazer que assassina.


Que luz... e a noite após! – Efêmera beldade

Cujos olhos me fazem nascer outra vez,

Não mais hei de te ver senão na eternidade?


Longe daqui! tarde demais! "nunca" talvez!

Pois de ti já me fui, de mim tu já fugiste,

Tu que eu teria amado, ó tu que bem o viste!

BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. Tradução, introdução e notas de Ivan Junqueira. Edição biligue. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.


MÚSICAS

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“- Olá! Como vai?/- Eu vou indo. E você, tudo bem?/- Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro… Evocê?/- Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranquilo… Quem sabe?/- Quanto tempo!/- Pois é, quanto tempo!/- Me perdoe a pressa, é a alma dos nossos negócios!/- Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!/Quandoé que você telefona? Precisamos nos ver por aí!/- Pra semana, prometo, talvez nos vejamos… Quem sabe?/- Quanto tempo!/ Pois é… Quanto tempo!/- Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas.../- Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!/- Por favor, telefone! Eu preciso beber alguma coisa,rapidamente…/ - Pra semana…/- O sinal…/- Eu procuro você…/- Vai abrir, vai abrir…/- Eu prometo, não esqueço, não esqueço…/- Por favor, não esqueça, não esqueça…/- Adeus!/- Adeus!/- Adeus!”

(Paulinho da Viola. Sinal Fechado)


“A moda na cidade é grande/O medo é grande também/A corrida do cheque incoberto O saldo não teve e não tem/Os valores trazidos da terra/Enfrentando as cancelas /Do “pode-não- pode” /A força falsa de um cartão de crédito /Ao invés de um fio de bigode”

(Zé Geraldo. Reciclagem)