Sociologia e Comunicação/Marx-Engels parte II
A categoria "trabalho"
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“Podemos distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião — por tudo o que se quiser. Mas eles começam a distinguir-se dos animais assim que começam a produzir os seus meios de vida, passo este que é condicionado pela sua organização física.”(Feuerbach. Oposição das Concepções Materialista e Idealista – Capitulo Primeiro de A Ideologia Alemã – Karl Marx e Friedrich Engels 1845-46)
Vamos dar uma olhada neste esquema (ao lado).
É importante notar o peso que a noção de TRABALHO tem no pensamento de Marx. O trabalho é a forma pela qual os seres humanos produzem o mundo em que vivem, o modo pelo qual trabalham, as relações que estabelecem entre si e as ferramentas e técnicas que criam acabam por configurar esse mundo.“Pelo trabalho, o homem … modifica o mundo e se modifica a si mesmo. Produz objetos e, paralelamente, altera sua própria maneira de estar na realidade objetiva e de percebê-la.” (Leandro Konder. O futuro da filosofia da práxis)
No capitalismo, esse esquema assume uma forma histórica particular.
Devido à sua forma de propriedade privada, os meios de produção concentram-se na mão de algumas pessoas apenas. Com isso, as leis, o Estado e a ideologia organizam-se ao seu lado como uma forma de existência política e jurídica muito particular.
Marx está preocupado com as relações sociais em que os indivíduos se envolvem e não com a sua individualidade propriamente dita.
Ele não fala de indivíduos e, sim, de classes.
Os proletários (força de trabalho) e a burguesia (capital) dependem um do outro para sua existência. Por isso, a produção vai ser sempre coletiva.
Mas, a maioria dos indivíduos contam apenas a sua força de trabalho que precisa ser “vendida” para quem tem os meios de produção. Ao mesmo tempo em que dependem uns dos outros, essa relação é assimétrica e contraditória como veremos.
De onde vem a riqueza?
editarMarx, como um grande leitor do pensamento econômico liberal, valoriza muito a descoberta desses economistas que centram a produção da riqueza no trabalho.
Até então, os economistas fisiocratas diziam que a riqueza vinha da terra.
Quem descobriu que o trabalho era uma categoria fundamental de estudo foram os economistas liberais. O que eles não analisaram direito foi como o trabalho se organiza no capitalismo.
Foi aqui que Marx identifica uma relação de exploração que passa despercebida para esses economistas.
Se a riqueza vem do trabalho, como explicar que a maior parte da riqueza produzida pelo proletariado não fica com ele e, sim, com quem é dono dos meios de produção. Marx percebe que essa parcela de riqueza que é retirada do trabalhador funciona como uma mais-valia, uma valor produzido a mais que não vai para as mãos de quem o produziu.
Logo, a riqueza não pode vir do trabalho, mas da exploração do trabalho de alguém. Se alguém enriquece, esse alguém não é o proletário. Pelo contrário, ele se empobrece e se aliena em todos os sentidos.
Quanto mais rico é o mundo que produz, mais pobre ele fica.
Ele não controla o que produz. Não controla como produz. E não controla o que é feito com aquilo que produz. Quem controla tudo é sempre um ser alheio a ele, é sempre algo fora dele que conduz a sua vida: daí a noção de alienação. Essa alienação vai ter consequências profundas no seu modo de perceber o mundo que ele mesmo criou.
Ao se deparar com as mercadorias que produziu – e pelas quais recebeu um salário – ele vai ver que, muitas vezes, não pode comprá-las. O mesmo se dá com o prédio que ajudou a erguer, mas no qual nunca vai poder morar. Talvez, nem passar perto. E assim vai.
As mercadorias ganham vida e ele se torna um objeto. Elas o definem, dão um lugar a ele. Todo o seu trabalho – e de seus colegas- que estão nela, são apagados e elas aparecem com um poder sobrenatural.Elas ganham vida e são capazes de definir o que ele é. Daí, a noção de “fetichismo” da mercadoria.
A mercadoria
editarMarx começa sua principal obra, O Capital, analisando a mercadoria. A unidade básica que traduz a lógica burguesa ou capitalista. No capitalismo os produtos asumem a forma-mercadoria, ou seja, neles é possível identificar a produção de dois tipos de valores diferentes: o valor de uso e o valor de troca.
O valor de uso é a utilidade de um bem. O ar, a água etc pode ser um valor de uso e não ser uma mercadoria. A lógica do DIY (Do It Yourself ), a produção de um bem artesanal para si mesmo, produz valor de uso, mas não mercadoria.
Nas formas de produção capitalistas, além do valor de uso de uma coisa, é produzido um valor de troca. O valor de troca é o tempo de trabalho socialmente necessário para produzir um bem e que vai ser trocado no mercado.
Essa lógica faz com que a utilidade de um bem só faça sentido se puder ser convertida em um valor de troca. O que se produz é relativamente indiferente (camisas, carros, educação, petróleo, música etc.) desde que possa assumir a forma-mercadoria e ter um valor de troca.
Não é a utilidade de um bem o sentido de seu produção, mas a sua capacidade de ser convertido em mercadoria e lucro.
"A visão de [Larry]Page [do Google] reflete perfeitamente a história do capitalismo, marcada por controlar coisas que vivem fora da esfera de mercado e declarar sua nova vida como mercadorias" (Zuboff, 2020)
Referências Bibliográficas
editarHARVEY, David. O enigma do capital: e as crises do capitalismo. São Paulo: Boitempo, 2011
MARX/ENGELS (História). Coleção Grandes Cientistas Sociais (org. Florestan Fernandes). 3.ed. Ática: São Paulo, 1989
QUINTANERO, Tânia; BARBOSA, Maria Lígia de O. ; OLIVEIRA, Márcia G. Um toque de clássicos. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.
ZUBOFF, Shoshana. A era do capitalismo de vigilância: a luta por um futuro humano na nova fronteira do poder. Rio de Janeiro: Intrínseca, 20020
Anatomia de um sistema de inteligência artificial - Cristiana de Oliveira Gonzalez e Pedro P. Ferreira. Com Ciência, 20/09/2020
Outras Referências
editarJúlio Andery - OIT
Um projeto que tenho especial carinho e orgulho de ter participado. Convidado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos, participamos da concorrência da Campanha Contra o Trabalho Escravo no Brasil para a OIT, organização internacional do trabalho.Ficamos com a conta e aprovamos a campanha no gabinete do ministro dos direitos humanos. E ele nos deu 14 dias para por em pé um filme de 1 minuto, logotipo, 4 anúncios e uma exposição no congresso nacional. Tudo de forma voluntária.Depois não entendem por que sou tão ansioso.Em equipe, nós fizemos.Contamos com a equipe da Lowe São Paulo e também da filial de Brasília.Meu recorde, 67 horas acordado trabalhando, em São Paulo e depois em Brasília.O melhor disso tudo é que em 1 ano, se me lembro bem, conseguimos mais de $21.000.000 de reais em doações e o assunto cresceu mais de 1.900% na mídia.O spot da campanha teve em 6 meses mais de 3.500 downloads espontâneos.
Depois disso tudo, não consegui ser o mesmo. Me demiti, e fui ser voluntário na OIT de Brasília por quase 7 meses.Nesse período fui como espectador para o sul do Pará, junto com os agentes da policia federal, equipe da OIT e fiscais do trabalho conhecer a realidade desses trabalhadores escravos.Em um único dia vi serem libertados 75 trabalhadores, homens, mulheres, crianças que viviam em situação análoga à escravidão.Depois dessa profunda experiência eu voltei para a Almap.E me permitiram trazer a conta desse projeto comigo.
Nova atualização do "Moda Livre" é lançada no Fashion Revolution SP (Repórter Brasil)
The True Cost The True Cost
Através do mundo da moda, o documentário pensa sobre as roupas que usamos e as pessoas que as fabricam. Em meio a realidade industrial, o preço das roupas estão diminuindo há decadas, enquanto que os custos ambientais e humanos só aumentam. Qual o impacto dessa indústria da moda? Quem realmente para o preço pelas nossas roupas?
Seu celular está manchado de sangue, avisa a rede de ONGs ‘Enlázate por la Justicia’
editarFox News tried coming after Denmark’s social safety net. This Danish politician’s retort was legendary. pic.twitter.com/VLh1Gc4umg— NowThis (@nowthisnews) 15 de agosto de 2018
A rede de ONGs que inclui Cáritas, CEDIS, CONFER, Justicia y Paz, Manos Unidas e REDES denuncia os abusos sociais e ambientais cometidos tanto no processo de fabricação quanto no uso diário dos smartphones.
Governança corporativa: O caótico poder dos gigantes financeiros – Ladislau Dowbor