Sociologia e Comunicação/Modernidade I

Modernidade - Apresentação
A modernidade em Anthony Giddens
Uma Nova Ordem Mundial

Vamos começar falando das transformações pela qual passa esse mundo moderno.

Para Ben Singer, em Modernidade, Hiperestímulo e o Início do Sensacionalismo Moderno, a modernidade pode ser pensada a partir das transformações produzidas em várias esferas da vida:


a) na ordem moral e política - Na modernidade, consolida-se o chamado Estado-Nação que pode ser caracterizado pela delimitação de uma territorialidade sobre a qual se exerce uma soberania e se monopoliza o uso legítimo da força física.

Ao representar uma força de ruptura com o mundo tradicional, suas normas e valores e produzir uma centralização do poder político nos chamados Estados-Nação e todo o seu sistema de representação, o individualismo de ordem liberal etc.


b) na ordem cognitiva. ao acentuar o desenvolvimento de um tipo particular de racionalidade (a racionalidade instrumental), o domínio da natureza por meio da técnica e pela crença na ideia de progresso . Na visão moderna da relação homem-natureza, encontramos a ênfase na sua capacidade de conhecer, prever, planejar/controlar. (o que um sociólogo como Max Weber irá chamar de desencantamento do mundo).

Essa vontade de controle sobre a natureza e sobre todos os aspectos da vida humana é orientada pela ideia de progresso como uma espécie de domínio sobre certas forças poderosas e desconhecidas com a finalidade de direciona-las a um propósito civilizador de emancipação do homem.

Essa crença revelou-se ingênua e suas consequências, em alguns casos, foram terríveis (desigualdade, opressão, massacres, poluição, acidentes nucleares etc.)


c) na ordem socioeconômica. surge um novo modo de produção baseado na “maquinaria”, na fábricas, na produção industrial “em massa”, sustentando em uma série de conflitos sociais entre o capital e o trabalho (ver: Revolução Industrial).

Podemos pensar a modernidade a partir de seu vínculo com uma ordem industrial.Essa nova ordem gera um tipo particular de mobilidade que acentua o fenômeno da urbanização, demandno um novo sistema de circulação de bens, pessoas e informações com mudanças radicais nos sistema de transporte “de massa” e nos sistemas de comunicação (telefone, telégrafo, imprensa etc.)

Surgem novos espaços e modos de consumo, baseados nos centros de compras, na publicidade e no consumo “de massa”. O mercado aparece como um sistema autônomo que organiza a vida social. Quase tudo, nessa nova ordem, tende a assumir a forma de mercadoria e a ser disponibilizada nesse espaço que é o mercado no qual pode ser comprada ou vendida.


d) na ordem neurológica. No que diz respeito à vida cotidiana moderna, podemos dizer que ela se revela como um “mundo em disparada” que tende a um “desenraizamento” das antigas formas comunitárias tradicionais (pré-modernas).

Como alterações na estrutura da experiência, temos: a aceleração da vida cotidiana na vida da metrópole, a experiência do choque, a presença da multidão e um bombardeio de estímulos.

Esse aspecto é bastante desenvolvido em autores com Walter Benjamin e Georg Simmel.

Georg Simmel (1858-1918)


Em meio à turbulência sem precedente do tráfego, barulho, painéis, sinais de trânsito, multidões que se acotovelam, vitrines e anúncio da cidade grande, o indivíduo defrontou-se com uma nova intensidade de estimulação sensorial. A metrópole sujeitou o indivíduo a um bombardeio de impressões, choques e sobressaltos. O ritmo da vida também se tornou mais frenético, acelerado pelas novas formas de transporte rápido, pelos horários prementes do capitalismo moderno e pela velocidade da linha de montagem.” (Mike Featherstone . O flâneur, a cidade e a vida pública virtual).


O sociólogo Georg Simmel constata que, para se defender desse turbilhão de sensações, o homem urbano moderno tende a desenvolver uma atitude blasè.

Esse mesmo hiperestímulo sensorial é o meio no qual o sensacionalismo dos jornais impressos prolifera. (Singer, 2001).

Para entender essa transformação é preciso seguir os passos de Walter Benjamin e observar que:

No interior de grandes períodos históricos, a forma de percepção das coletividades humanas se transforma ao mesmo tempo que seu modo de existência. O modo pelo qual se organiza a percepção humana, o meio em que ela se dá, não é apenas condicionado naturalmente, mas também historicamente (Walter Benjamin, Obras Escolhidas III p. 169).

O mundo ocidental moderno promete aventura, liberdade, poder, mobilidade, velocidade, uma transformação constante de si mesmo e do mundo ao redor, fazendo com que a vida social se intensifique, mas, ao mesmo tempo, ameaçam romper com tudo o que construímos ou conhecemos de uma hora para outra.

Como Karl Marx destaca, um mundo em que tudo o que parece sólido pode se desmanchar no ar de uma hora para outra.

Em Sobre alguns temas em Charles Baudelaire, Walter Benjamin (1989) destaca que a grande cidade causava medo, repugnância e horror aos que, pela primeira vez, deparavam-se com ela. Mas, ao mesmo tempo, ela era um espaço de sonho e fantasia. Uma estranha fantasmagoria. Um novo processo civilizatório que começava a ganhar forma.


A Modernidade em Anthony Giddens

Sistema Abstrato (fichas simbólicas + sistemas peritos)

Sociólogo: Anthony Giddens (1938- )
Esse desencaixe das instituições pode ser percebido no aparecimento de um “sistema abstrato” caracterizado pela presença, cada vez maior, das chamadas “fichas simbólicas” e dos “sistemas especializados”.

O dinheiro é a forma mais comum de ficha simbólica. Ele se torna uma espécie de equivalente universal que pode ser trocado por qualquer coisa em qualquer lugar.

Os sistemas peritos (especializados), por sua vez, podem ser identificados na divisão social do trabalho presente no mundo moderno.

Giddens observa que o médico, o analista e o terapeuta tornam-se tão importantes como sistemas especialistas quanto um cientista, um técnico ou um engenheiro.

Tanto as fichas simbólicas (como o dinheiro) quanto os sistemas especialistas dependem de um elemento fundamental: um novo sistema de produção da confiança.

A confiança torna-se fundamental em um mundo em que as pessoas não se conhecem e relacionam-se em lugares muito distantes daqueles onde vivem ou trabalham. Ou, até mesmo, são obrigadas a confiar em pessoas que detêm um conhecimento técnico que desconhecem (médicos, mecânicos, advogados etc.)

Para que o mundo moderno não se desestruture, faz-se necessária a construção de novas arenas capazes de gerar um sentimento de segurança relativa na vida social. Uma dimensão importante dessa nova ordem moderna é que a tradição não lhe serve mais de referência.

A reflexividade passa a ser uma dinâmica importante da vida nessa nova configuração histórica. Tudo está sujeito a intensa revisão à luz de novos conhecimentos – normalmente produzidos pelos sistemas especialistas. A ciência passa a ser uma dimensão fundamental dessa reflexividade, pois é baseada justamente no princípio da dúvida, ou seja, todo conhecimento está sujeito a revisão ou pode ser descartado diante de novas descobertas ou mudanças de paradigma.

O próprio Eu ou o Self passa a ser construído reflexivamente. Como no mundo moderno a tradição perdeu a sua força, esse eu deve ser construído, ao menos em tese, em meio a diversas opções e possibilidades que podem ser revistas com o tempo.

Como esse Eu precisa ser construído reflexivamente, como foi dito acima, o aparecimento de “especialistas” na sua construção passa a ser cada vez mais requisitado. Quanto mais se aumentam as possibilidades de escolha, aumenta-se, também, a incerteza quanto as decisões consideradas “corretas”.

A modernidade pode ter reduzido consideravelmente os riscos em determinadas esferas da vida, mas introduziu não somente novos riscos – de que nem sequer tem ideia ainda -, mas novas formas de avalia-los e antecipa-los. Formas que não existiam em épocas anteriores.


Bibliografia

BIBLIOGRAFIA

GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. São Paulo: UNESP, 1991 GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002 (Introdução e Cap. I)

SIMMEL, Georg. As grandes cidades e a vida do espírito. Mana. Rio de Janeiro, vol.11, no.2, out. 2005 [1903], p.577-591.

SINGER,Ben. Modernidade, Hiperestímulo e o início do sensacionalismo moderno. In: CHARNEY, Leo & SCHWARZ, Vanessa R. (Org.). O cinema e a invenção da vida moderna. Editora Cosac Naify, 1ª edição, 2010.


CRÔNICA/POESIA Leia ao menos um dos textos.

João do Rio. O automóvel (incrível capacidade de observação de João do Rio sobre o significado do automóvel no mundo moderno. As mudanças que o automóvel anuncia)

________. Pressa de Acabar (O cinematógrafo) Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

Terra desolada – T.S. Elliot

Ode Triunfal Álvaro de Campos (Fernando Pessoa) – incrível tradução da experiência moderna

Manifesto Futurista – Marinetti Ser moderno – Vinícius de Moraes (Rio de Janeiro, Jornal do Brasil, 31/12/1969)

OUTRAS FONTES

Moving Pictures: Magic Lanterns, Portable Projection, and Urban Advertising in the Nineteenth Century – Dec 19, 2016 By: Ellery E. Foutch – Volume 1, Issue 4 – © 2016 Johns Hopkins University Press

Para entender a modernidade e o modo pelo qual o cinema passa pelo tema. Raimo Benedetti conta o que é o Cinema das Atrações

Propagandas (século XIX)

Government corruption and the Progressive EraA Mobilidade como objecto sociológico – Emília Rodrigues Araújo

O que é FoMO? ‘Fear of missing out’ revela o medo de ficar por fora nas redes sociais – Isabela Giantomaso – TechTudo, 27/05/2017

Do homem-sandwich ao homem-placa

Ramadã, uma preocupação para o Liverpool e sete seleções que vão à Copa – Luís Augusto Monaco – Chuteira F.C. 06/05/2018

Luís Felipe Miguel. O jornalismo como sistema perito

Renato Motta. Risco e Modernidade – Uma nova teoria social?