Introdução ao Jornalismo Científico/História da Ciência e da Tecnologia/Idade Média e o caminho para o Renascimento Científico
Idade Média e o caminho para o Renascimento Científico
Apesar de ter a língua grega como a oficial, o Império Romano do Oriente (e depois Império Bizantino) em nada contribuiu para Ciência. A ortodoxia católica fechou e queimou instituições como a Biblioteca e o Museu de Alexandria, e proibiu os ensinamentos dos filósofos gregos por considerá-los pagãos. Nesse contexto nada favorável, sábios que seguiam outras religiões, como os cristãos nestorianos, fugiram para a Síria, Pérsia e outras regiões que depois seriam dominadas pelos árabes-muçulmanos. Ou seja, a maior "contribuição" do Império Bizantino, teocrático e absolutista, foi afugentar aqueles que queriam estudar e propagar o conhecimento de Aristóteles, Platão e outros. Assim, eles apresentaram o gênio grego aos árabes, uma contribuição fundamental para o desenvolvimento tanto da Ciência quanto do Islã.
A dissolução do Império Romano do Ocidente, em 426, marca o início da Idade Média, período no qual a Europa viveu uma série de modificações sociais, geopolíticas e religiosas. Praticamente não houve contribuição para a evolução da Ciência durante esse período. Contudo, se faz necessário apresentar uma síntese das transformações ocorridas nas sociedades europeias que antecederam o Renascimento Científico. A Idade Média costuma ser separada em duas épocas: Alta Idade Média (séc. V - XIII) e Baixa Idade Média (séc. XIV - XV).
Alta Idade Média
editarA Alta Idade Média pode ser dividida em três períodos:
Reinos germânicos (séc. V - VIII)
editarOs povos germânicos aproveitaram a queda de Roma para expandir suas fronteiras e criar novos reinos. Os centros urbanos eram saqueados e as pessoas deixaram-nos em direção ao campo. Houve, portanto, um declínio econômico influenciado pelo êxodo urbano e pela queda na atividade comercial. A saída das pessoas das cidades fez com que os proprietários de terras ganhassem poder. Eles deixavam que famílias morassem e trabalhassem em suas propriedades em troca de pagamento de impostos e da prestação de serviços. A técnica usada na agricultura era a mesma dos romanos. Não houve nenhum tipo de melhoria técnica ou produtiva. O conhecimento estava restrito aos representantes da Igreja Católica, de monges a padres e bispos. Escolas foram fechadas e reis eram analfabetos. A preocupação dos povos era com a vida diária, em ter comida para comer e não pecar para alcançar a vida eterna. Santo Agostinho contribuiu para a formação do pensamento cristão medieval. Foi ele quem, com base em obras platônicas e neoplatônicas, colocou a Filosofia Natural a serviço da Teologia, para que ela não fosse obliterada mas usada a favor da Fé Cristã. Santo Agostinho não fazia uma distinção clara entre Razão e Fé. Esta seria separada em duas: inferior e superior. A primeira seria o conhecimento da realidade mundana adquirido por meio da Ciência. A segunda seria o conhecimento como meio de se aproximar ao Criador. A Igreja Católica fortaleceu-se durante esse período com as cristianização dos germânicos. Os reis buscavam o apoio do papa para dar caráter divino ao seu posto de governança. Contudo, eles eram incapazes de controlar os grandes proprietários de terra e de impor sua autoridade.
Pré-feudal (séc. IX - X)
editarEmbora o poder central estivesse em declínio ao passo que crescia o poder dos senhores feudais, houve um rei, Carlos Magno, que se destacou ao tentar recriar o Império Romano do Ocidente. A Igreja de Roma, interessada em ampliar sua doutrina e disseminar seus dogmas, declarou-o Imperador do Sacro Império Romano. O alinhamento entre Estado e Igreja colaborou para que o latim se tornasse o idioma do governo e da religião. Contudo, a sabedoria era escassa e, novamente, ficava nas mãos dos monges e padres que repassavam o conhecimento a pouquíssimas pessoas. Carlos Magno, por exemplo, era iletrado. Apesar de sua liderança e de ter dominado uma considerável parte da Europa continental, a influência e o poder do senhores feudais aumentava. Eles eram os responsáveis pela cadeia produtiva, recolhiam os impostos da população, mantinham um exército e controlavam a justiça. Essa classe rica e aristocrática era quem de fato controlava a sociedade depois da Igreja. Acentuou-se, no final deste período, a transição da escravidão para a servidão como mão de obra fundamental para a economia essencialmente agrícola das comunidades europeias.
Feudal (séc. XI - XIII)
editarOs senhores feudais eram quem de fato controlavam as sociedades europeias. Os reis perderam a influência e o poder de outrora para os grandes proprietários de terra, que podiam cunhar moedas e eram os donos do poder político, econômico e judicial. Além disso, os reis dividiram o poder monárquico em "partes locais", distribuídas aos duques e condes. Houve uma grande debandada de famílias com direção ao interior, distantes das cidades, que tornaram-se vazias com esse movimento que se deu em grande parte à incapacidade dos reis de proteger a população. Por outro lado, os senhores feudais tinham exércitos capazes de proteger os vassalos e seus servos em uma época de constante ataques por parte dos vikings e eslavos. O êxodo rural somado com a segurança proporcionada pelos senhores feudais gerou uma intensificação da ruralização e, por consequência, um aumento na produção agrícola tanto em termos de quantidade quanto de qualidade. Com mais comida disponível, a população cresceu, a mão de obra pôde deslocar-se para outras áreas, como o artesanato e o comércio, que intensificou-se com a comercialização dos excedentes da produção. No que tange a religião, a Igreja Católica queria se impor em toda Europa ocidental. Para tanto, através das Cruzadas, expandiu seus domínios e enfrentou os muçulmanos da Península Ibérica até Jerusalém. Mais do que empreender batalhas, a Igreja Católica tinha de converter os considerados pagãos e hereges, como judeus e adeptos de esoterismos. Ela tinha, ao seu favor, a segurança de comandar as escolas e, assim, de controlar o acesso ao conhecimento. As aulas eram ministradas em latim por padres e monges. Neste contexto, o latim ficou com a língua culta e oficial, enquanto a maioria da população, iletrada, desenvolvia sua própria língua regionalmente.
A detenção do conhecimento pela classe sacerdotal é constante na história da humanidade. Proporcionar à população as ferramentas para o pensamento crítico e racional era colocar em xeque o poder governante, no campo da religião e da política. A Igreja Católica, com seus monges, traduziu e preservou diversas obras filosóficas, mas transmitiu apenas os ensinamentos que estivessem de acordo com seus preceitos e dogmas. Inquirir sobre a natureza das coisas, a essência da Filosofia Natural, era desencorajado pelos teólogos, pois, como disse Santo Agostinho, o cristão precisava apenas saber que a causa da existência era a bondade do Criador. Embora a Igreja de Roma quisesse sumir com qualquer sinal de uso da Razão, teólogos do século XI seguiam a linha de Agostinho e eram favoráveis ao uso da Razão, desde que em defesa da Fé. Esta mudança de pensamento oxigenou um ambiente que era nada favorável para o desenvolvimento da Ciência. Foram fundadas, na mesma época, as primeiras universidades: Escola de Bolonha, em 1088, Escola de Medicina de Montpellier, em 1137, e Universidade de Oxford, em 1186. Mesmo que de maneira incipiente, esses foram os primeiros sinais de a sociedade europeia passaria por uma transição.
A Ciência evoluiu pouco durante a Alta Idade Média. O ambiente não era propício para a manifestação do pensamento crítico, racional e lógico. Afirmar algo contrário ao ensinamento católicos era assinar a sentença de morte. A situação começou a mudar a partir do século XI, quando os europeus descobriram o conhecimento e a realização de outras culturas, como a helênica, a chinesa e a islâmica. Como dito anteriormente, a tradução de obras do grego para o árabe foi um fator de suma importância para preservação do gênio grego. Do mesmo modo, a tradução de obras do árabe para o latim, a partir do século XII, colocou a pulga da Razão atrás da orelha dos europeus. O contato dos cristãos europeus com a cultura islâmica começou com a tomada de Toledo, em 1085, por Afonso VI, onde havia uma vasta literatura árabe. Depois veio a conquista de Sicília, em 1091, após 130 anos de domínio muçulmano. Diversas obras foram traduzidas do árabe para o latim: "Álgebra", de Al-Khwarizmi, "Almagesto" e "Planisfério", de Ptolomeu, uma série de livros de Aristóteles, como "Física" e "Do Céu e do Mundo", além de tratados de medicina de Hipócrates e Galeno.
Baixa Idade Média
editarHistoriadores normalmente estabelecem como início e fim da Baixa Idade Média os séculos XIV e XV. A separação da Idade Média em duas partes existe porque a prosperidade da Alta Idade Média sofre um baque ao longo do ano 1300 com a Grande Fome (1315-1317), a Peste Negra e a Guerra dos Cem Anos entre França e Inglaterra, além de revoltas internas nestes e em outros reinos europeus. Durante a passagem da Alta para a Baixa Idade Média, acentuou-se a mudança do feudalismo por uma sociedade pré-capitalista. Entre as características que evidenciam esse processo, podemos citar a realocação da população para os centros urbanos, o aumento do comércio monetário no lugar da troca de produtos, o aparecimento da burguesia com os nobres proprietários de terra, os senhores feudais, que perderam a influência de antes para a monarquia, cujo poder militar fora renovado pela introdução da pólvora, além da criação dos Estados e reinos nacionais.
A religião teve papel fundamental para preparar o terreno para o renascimento científico. Ela era a responsável pelas poucas instituições de ensino, ao qual poucos tinham acesso, em geral homens da burguesia e da nobreza que precisavam saber ler, escrever e contar para tocar o negócio da família, além dos selecionados para a vida clerical. Porém, a enorme maioria da população continuava analfabeta. O ensino se dividia entre quadrivium, com aritmética, geometria, música e astronomia, e trivium, com gramática, lógica e dialética. Como a Igreja Cristã controlava a educação, o estudo era pautado - e limitado - de acordo os preceitos, dogmas e objetivos do cristianismo. Mesmo com o pouco espaço entre as vontades do Papa e as do Rei, contrário a qualquer possível ameaça ao seus poderes, mestres e alunos redescobriram as obras gregas e passaram a explorar o conhecimento científico e filosófico produzido por eles.
O reaparecimento de obras filosóficas de Aristóteles trouxe novamente ao centro do debate a relação entre Razão e Fé, Racionalismo e Revelação. O aristotelismo recusava a ideia de uma criação anterior a todas as coisas, o que ia contra a noção de existir um criador, no caso, Deus. Não entraremos nessa emaranhada questão filosófica. O importante aqui é deixar claro que o uso da Razão voltou ao centro do debate com Tomás de Aquino, que colocou Razão e Fé no mesmo patamar, ao contrário da teologia agostiniana, que via a Razão como inferior à Fé. Para o tomismo, a Razão, por meio dos sentidos, traria o conhecimento racional, enquanto a Revelação, alimentada pela Fé, ajudaria na compreensão do desconhecido.
Os textos filosóficos gregos, somados à revalorização da Razão dentro do contexto de uma sociedade pré-capitalista, tornou o ambiente mais favorável ao pensamento científico, pagão e secular, embora a predominância ainda fosse do pensamento cristão, sagrado e crente na ação divina. Apareceram os primeiros traços de individualismo do ser humano renascentista, que recusava aplacar suas vontades próprias em troca do bem coletivo conforme propagado pelo cristianismo. Foram dois franciscanos, John Duns Scotus e William de Ockham, os mais ferrenhos críticos dos textos de Tomás de Aquino entre 1250 e 1349. Duns Scotus separou a Filosofia da Teologia, pois a Teologia não teria como erigir-se sobre a Razão; Ockham falou que a Fé não poderia escorar-se na Razão, campos distintos e independentes. As críticas ao tomismo e, por efeito, à Igreja de Roma suscitaram o debate sobre a separação Religião e Ciência.
O Começo do Renascimento Científico
editarÉ curioso notar o papel da Igreja de Roma em relação às primeiras universidades. Ela era a favor de que o ensino não sofresse intervenção do Estado ou dela própria. Tal postura era tomada pois sabia que o controle do conhecimento de fato estava em suas mãos, já que as aulas eram, em geral, ministradas por homens ligados à Igreja Católica de Roma, e as escolas, anexas aos mosteiros e catedrais. Contudo, a Igreja não tinha como controlar completamente o pensamento de monges, padres e alunos que, inspirados pelos filósofos gregos, por vezes posicionavam-se contra certos dogmas e preceitos do cristianismo.
Não houve desenvolvimento tecnológico na fase inicial do Renascimento Científico. Mesmo assim, foi entre os séculos XIII e XV que aparecem os primeiros sinais de pensamento científico entre os eruditos da época. Inspirados pela redescoberta do conhecimento grego, acrescido de reflexões dos árabes islâmicos, hindus e chineses, os estudiosos europeus avançaram em diversas áreas do saber. Mais de um milênio depois dos gregos e do advento da Filosofia Natural, a Europa voltou a desenvolver o conhecimento a ponto de equiparar-se ao de outras culturas. Por efeito, o status quo da Europa começou a ser afetado.
O desenvolvimento do saber avançou especialmente pelas áreas da Mecânica, Óptica e Matemática, nas quais a especulação e a precisão do pensamento puderam ser trabalhadas sem o controle das forças dominantes, Igreja e Estado, pois lhes parecia que os estudos nessas áreas não afetariam as estruturas da sociedade europeia. Os traços do pensamento científico começaram a aparecer em gente ligada à Igreja, como Robert Grosseteste e Roger Bacon; em monarcas, como Frederico II e Afonso X; e em mercadores matemáticos, como Leonardo Fibonacci. Apresentaremos a contribuição à Ciência dos citados acima como maneira de mostrar o estágio no qual a Ciência se encontrava no começo do Renascimento Científico.
Frederico II (1194 - 1250)
editarFrederico II tornou-se rei da Sicília logo aos três anos de idade e considerava-se descendente dos imperadores de Roma, tanto que foi coroado como Imperador do Sagrado Império Romano pelo papa em 1220. Frederico II era poliglota: falava latim, siciliano, alemão, francês, grego e árabe. Seu interesse por línguas não se limitava ao estudo de idiomas. Com o intuito de descobrir se existia uma língua de nascença, natural ao ser humano, fez um experimento de privação ao pegar crianças e cuidá-las sem que elas tivessem qualquer contato ou interação com outras pessoas. Ele acreditava que haveria uma língua primal, usada por Adão e Eva, e suspeitava que as crianças fossem desenvolver o hebreu ou o idioma dos progenitores. O resultado? As crianças se expressavam através de gestos, palmas e murmúrios, sem nenhum traço de haver expressão oral inata ao ser humano.
O ceticismo de Frederico II era incomum para época. Mesmo coroado pela Igreja de Roma como imperador, exibia símbolos pagãos e religiões orientais em suas posses. Frederico II tinha uma insaciável sede por conhecimento: trouxe judeus de Jerusalém para que trabalhassem como tradutores de obras em grego e árabe. Extremamente interessado por aves, principalmente por falcoaria, Frederico II foi autor do livro “A Arte de Caçar com Pássaros”, no qual fala de seu interesse por meio da observação e do experimento. A obra tinha ilustrações de aves, comentários sobre comportamento e análises de anatomia e fisiologia. Frederico II chegou a criticar Aristóteles, a quem chamava de príncipe dos filósofos, por ele ter escrito com base no que ouviu ou aprendeu, e não na experiência própria, pois ele não teria caçado animais de rapina. Ele inclusive tinha um zoológico com leões, leopardos, guepardos, camelos, girafas, macacos, elefantes, etc. Fundou, em 1224, Universidade de Nápoles, hoje chamada de Universidade de Nápoles Federico II, a mais antiga universidade estadual do mundo. Mecenas, Frederico II conversava frequentemente com eruditos, filósofos, matemáticos e astrônomos, e aos mais destacados pagava uma quantia para que continuassem com o estudos. Entre eles, Leonardo Fibonacci.
Leonardo Fibonacci (1170 - 1250)
editarTambém conhecido como Leonardo de Pisa, Fibonacci é considerado o mais importante matemático ocidental da Idade Média. Filho de comerciantes, viajava com frequência pelo litoral do Mediterrâneo, como na costa da Argélia, onde aprendeu o sistema numérico hindu-arábico, o qual ele introduziu à cultura europeia com o livro “Liber Aci”. Esta obra foi de suma importância para o comércio porque facilitou o cálculo matemático de lucro, juros e de diferentes moedas correntes numa época em que o sistema bancário começava a se expandir. Fibonacci conseguiu uma renda vitalícia de Frederico II ao resolver alguns problemas matemáticos propostos pelo monarca. Fibonacci dedicou a Frederico II o livro “Liber Quadratorum”, sobre equações diofantinas.
O nome de Fibonacci é inevitavelmente atrelado à sequência de Fibonacci, na qual soma-se os dois números anteriores para chegar ao subsequente (0, 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144…). Acredita-se que os indianos já soubessem dessa sequência matemática desde o século VI. Aliás, os incas tinham um tipo de calculadora baseada nos números de Fibonacci. A natureza apresenta os mais curiosos casos da sequência de Fibonacci, como na espiral da concha do nautilus e no crescimento das folhas de alguns tipos de plantas.
Afonso X (1221 - 1284)
editarAfonso X, o Sábio, tinha grande interesse por Astronomia e Astrologia. Ordenou a tradução e adaptação dos estudos dos cosmos de Ptolomeu, que serviu de base para a elaboração das Tábuas Afonsinas ao lado das observações da abóbada celeste feitas pelo árabe Ázarquel no século XI. As Tábuas Afonsinas têm as posições exatas dos astros conhecidos à época. A contagem começa a partir da data de coroação de Afonso X, em 1 de janeiro de 1252. As Tábuas Afonsinas foram por três séculos a principal fonte de astronomia para os europeus, que nela se instruíram para determinar certas datas festivas. Copérnico inclusive tinha uma cópia elaborada com pedaços de madeira e couro. Reza a lenda - e é bem provável que seja só lenda - que Afonso X, após lhe explicarem a matemática usada por Ptolomeu em sua teoria astronômica, disse: “se o Senhor tivesse me consultado antes de começar Sua criação, eu teria recomendado algo mais simples”.
Robert Grosseteste (1175 - 1253)
editarGrosseteste contribuiu de maneira inestimável para a elaboração do método científico. Bispo inglês e professor em Oxford, ele foi o primeiro estudioso do ocidente latino a falar da noção de experimentos controlados e da ciência experimental como meios de alcançar o conhecimento. Ele argumentava que saber a causa dos fenômenos naturais era o objetivo da Ciência. Para tanto, seria necessário determinar os agentes causadores, separar o fenômeno analisado em fases, observá-las e, então, para chegar a uma teoria, reproduzir o fenômeno de modo que outros pesquisadores pudessem testar a reprodução. Embora Grosseteste não tenha aplicado tais regras ao próprio trabalho, ele foi grande defensor desse princípio do método científico.
Ao que se sabe, Grosseteste fez as primeiras críticas ao uso indiscriminados dos textos da Antiguidade Clássica. Não à toa, encomendou a refugiados do Império Bizantino a tradução de obras de Aristóteles diretamente do grego, das quais apreendeu sobre óptica, física, geometria, luz e outros assuntos. Entre as obras escritas por Grosseteste, destacam-se “De Sphera”, sobre astronomia e a forma esférica do Universo; “De Luce”, no qual fala da luz como origem do cosmos; e “De Impressionibus Elementorum”, em que ele analisa e fala sobre os fenômenos meteorológicos.
Grosseteste hierarquizou as ciências de acordo com a dependência de uma para a outra. Para ele, a primeira de todas seria Óptica, pois a visão seria o sentido que mais apreende a realidade sensível. Depois viria a Geometria, já que pontos, linhas, ângulos e figuras geométricas explicariam o movimento da luz, que serviriam também para a Astronomia e explicação dos movimentos dos corpos celestes. Extremamente influenciado pelo pensamento aristotélico, Grosseteste era adepto da ideia de que a Natureza sempre escolhe o caminho da economia, ou seja, em suas próprias palavras, “a Natureza não executa com muitos meios nada que possa alcançar com poucos”. A influência de Grosseteste para o Renascimento Científico encontra paralelo em outro franciscano: Roger Bacon.
Roger Bacon (1219 - 1292)
editarAs ideias do filósofo, teólogo, astrônomo, matemático e físico Roger Bacon não agradaram aos franciscanos que comandavam o ensino da Universidade de Oxford, que o mandou à prisão por várias vezes, a última delas por catorze anos. “Opus Majus”, a principal obra de Bacon, foi condenada pela Igreja Católica de Roma, que a colocou entre os livros proibidos da lista “Index”, de onde sairia apenas em 1733. Assim como Frederico II, Bacon era descrente do disse-que-me-disse, questionava o conhecimento adquirido somente com o raciocínio, sem a experiência, que seria a essência da investigação científica. Caso o experimento ou a observação sejam inviáveis, somente a Matemática seria válida como método.
“Opus Majus” é composto por centenas de páginas espalhadas por sete partes que tratam desde a ignorância humana a respeito da geometria e da óptica até a linguagem e a astronomia. Na primeira parte, Bacon separa as causas do erro em quatro categorias: ensinamentos vindos de uma autoridade não confiável; costumes intrínsecos ao aluno; ignorância dos outros; e a ignorância camuflada com um falso conhecimento. Também fala da relação entre filosofia e teologia, e como a Bíblia é a origem de todas as ciências; depois aborda o estudo das quatro línguas bíblicas (latim, grego, hebreu e árabe) como necessárias para chegar à sabedoria revelada. A parte quatro inclui estudos sobre matemática e questões relacionadas ao calendário, e na quinta, inspirado em Alhazen e Al-Kind, Bacon disserta sobre óptica, a fisiologia da visão, a anatomia do cérebro e do olho, e fatores que influenciam o olhar, como luz, distância, reflexos, etc. A penúltima parte contém o primeiro registro sobre como fazer pólvora, a posição dos astros e elaborações sobre o uso de lentes em instrumentos para auxiliar a observação astronômica, quase uma previsão dos microscópios e telescópios. Por fim, a sétima e última parte fala da ética e da filosofia moral.Você também pode usar o botão de edição no canto superior direito de uma seção para editar seu conteúdo.