Introdução ao Jornalismo Científico/Modos de Organização e Financiamento dos Sistemas de Pesquisa, no Brasil e no Exterior/Os primeiros financiamentos de P&D e sua chegada ao Brasil

Módulo 1: Metodologia e Filosofia da Ciência Módulo 2: História da Ciência e da Tecnologia Módulo 3: Ética da Ciência Módulo 4: Temas Centrais da Ciência Contemporânea Módulo 5: Modos de Organização e Financiamento dos Sistemas de Pesquisa, no Brasil e no Exterior Módulo 6: Mídias, Linguagens e Prática do Jornalismo Científico


Os primeiros financiamentos de P&D e sua chegada ao Brasil

Conteúdo

Como vimos no Módulo 2, “História da Ciência e da Tecnologia”, os primeiros investimentos em pesquisa científica ocorreram durante o Renascimento, período entre os séculos XIV e XVII, no qual se encontra a Revolução Científica. Foi nesta época que surgiram as primeiras ideias de que, na verdade, a Terra circulava em torno do Sol, contradizendo o estabelecido e propagado pela Igreja Católica. A Teoria Heliocêntrica apresentada por Nicolaus Copernicus em 1543 e reiterada anos depois por Galileo Galilei ganhou força na Europa com as comprovações feitas por Johannes Kepler com base nos dados apurados por ele ao longo do tempo em que foi assistente de Tycho Brahe. Criador do Sistema Tychoniano, Brahe acreditava que a Terra era o centro do universo e que a Lua a orbitava. Durante o período em que trabalharam juntos, os dois observaram, desde a Ilha de Hven, a trajetória de Marte.

Hven foi um presente de Frederico II, rei da Dinamarca, a Brahe, para que ele pudesse realizar suas pesquisas. Lá, o astrônomo construiu o Uraniborg, uma espécie de instituto de pesquisa, talvez o primeiro de seu tipo, onde havia instrumentos astronômicos avançados para a época e que foram essenciais para a elaboração do sistema Tychonico. Após desavenças com o Rei Christian IV, que sucedeu Frederico II, Brahe abandonou o Uraniborg — que foi destruído — e se mudou para Praga, na República Checa.

Outro que conseguiu dinheiro para pesquisa através de meios no mínimo inusitados foi o escocês Alexander Graham Bell. Inventor e cientista, Bell, por volta de 1870, precisava de dinheiro para seguir com o desenvolvimento do “telégrafo harmônico”, o precursor do telefone. O primeiro a lhe conceder fundos para o projeto foi Gardiner Hubbard, pai de Mabel Hubbard. À época com 16 anos, Mabel era aluna de Bell na Escola de Oratória da Universidade de Boston e, três anos depois, eles se casaram. Contudo, como o dinheiro emprestado por Gardiner não fora o suficiente, Bell foi atrás de mais financiamento, e novamente o benfeitor estava próximo: Thomas A. Watson, seu assistente. Como compensação pelo investimento, Gardiner foi o primeiro presidente da Companhia Telefônica Bell, empresa criada em 1877 e que tornou-se na AT&T, gigante da telecomunicação mundial. A título de curiosidade, em 1888, Gardiner fundou a National Geographic Society, com o objetivo de “aumentar e difundir o conhecimento geográfico”.

Tão logo os portugueses desembarcaram no Brasil e eles começaram a escrever sobre o que de novo trazia a terra dos trópicos, distante dos padrões acadêmicos e científicos de hoje em dia. Eles tratavam essencialmente dos interesses econômicos de Portugal em relação à colônia, como a exploração dos recursos naturais e os lucros provenientes do processo. Até o começo do século XIX, as iniciativas de Portugal relacionadas à ciência e pesquisa no Brasil eram consequência de interesses pontuais, como uso e identificação de espécies da natureza, cartografia, geografia, mineração e astronomia. São fatores que contribuíram para a ínfima atividade científica no Brasil em seus três primeiros séculos:

  1. o alto número de analfabetismo
  2. o sistema educacional de nível elementar e ensinado exclusivamente por padres jesuítas
  3. a proibição de haver imprensa e de se publicar livros

Até o século XIX, poucos eram os registros de preocupação social em relação à ciência e sua difusão. Em 1772, o Marquês de Lavradio fundou a Academia Científica do Rio de Janeiro, cujo objetivo era dedicar-se aos estudos de química, física, história natural, medicina, farmácia e agricultura. A iniciativa não perdurou, fechando as portas em 1779. Depois, em 1786, surgiu a Sociedade Literária do Rio de Janeiro, que durou ainda menos, sendo fechada em 1794 após seus membros terem sido acusados e presos por conspiração a favor da independência do Brasil.

À época, os primeiros passos para a difusão científica foram dados por brasileiros da elite, enviados pela família à Europa para estudos no ensino superior. Ao retornar, ajudavam a espalhar as novas concepções científicas, além de teses e teorias que eram discutidas por lá. A situação só iria mudar em 1808, quando Dom João VI e a corte portuguesa chegaram ao Brasil fugindo do expansionismo francês comandado por Napoleão Bonaparte. A partir da mudança, os portos foram abertos ao comércio com outras nações, a imprensa teve autorização para existir, e foram criadas as primeiras instituições de ensino ligadas à ciência, como a Academia Real Militar, em 1810, e o Museu Nacional, em 1818.

A difusão científica tomou consistência com a publicação de textos de engenharia e medicina franceses traduzidos para o português por jornais da época, como A Gazeta do Rio de Janeiro, o Correio Brasiliense e O Patriota. Este, que foi publicado entre 1813 e 1814, colocou em suas páginas artigos que foram apresentados na Sociedade Literária, além de poemas de Silva Alvarenga com a temática da ciência. A crescente presença da ciência na sociedade, seja com estudos e descobertas ou com a divulgação em periódicos, parou no período que compreende a Independência do Brasil, em 1822, e o começo do Segundo Reinado, em 1840, quando declarou-se Dom Pedro II como imperador do Brasil.

Enquanto o Brasil se ajustava após o conturbado período político das regências, a Europa vivia uma nova agitação social graças aos desenvolvimentos proporcionados pela Segunda Revolução Industrial, que ocorrera na metade do século XIX. Havia uma enorme expectativa quanto ao progresso que o progresso da ciência poderia trazer. As famosas Exposições Universais, por exemplo, eram a manifestação da esperança alimentada pelo desenvolvimento tecnológico. À época, o nível das universidades era baixo, os graduandos eram exclusivamente engenheiros ou médicos, o analfabetismo era de 80% e a escravidão continuava a existir no Brasil. A pesquisa científica, portanto, concentrava-se entre os privilegiados brasileiros que, durante estudos no exterior, pesquisavam, além dos estrangeiros que aqui moravam ou estavam de passagem.

Durante o século XIX, a Biblioteca Nacional registrou a criação de 7.000 periódicos, dos quais 300 foram categorizados como “científico” ou “de ciência”. No entanto, boa parte era composto por notícias curtas e curiosidades, mas não deixa de ser um indicador de que existia interesse por ciência no país. A "distância" do Brasil para as novidades e descobertas científicas feitas na Europa diminui consideravelmente com a ligação telegráfica feita através de um cabo submarino conectando os dois continentes. Consequentemente, os jornais passaram a publicar notícias sobre as ciências com menos atraso em relação à publicação na Europa.

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Quiz

Caro(a) aluno(a), lembre-se que o quiz é uma autoavaliação.

1 1) Um dos primeiros investimentos para a criação de um instituto de pesquisa precursor dos institutos contemporâneos foi destinado para:

Galileu Galilei
Nicolau Copérnico
Tycho Brahe
Isaac Newton
Alexandre Graham Bell

2 2) Assinale os fatores que impediram a expansão da atividade científica no Brasil em seu começo:

Alto número de analfabetos.
Chegada de imigrantes.
Escassez de alimentos.
Sistema educacional elementar.
Proibição à imprensa e à publicação de livros.

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