Introdução ao Jornalismo Científico/Modos de Organização e Financiamento dos Sistemas de Pesquisa, no Brasil e no Exterior/Os primeiros financiamentos de P&D e sua chegada ao Brasil
Os primeiros financiamentos de P&D e sua chegada ao Brasil
Hven foi um presente de Frederico II, rei da Dinamarca, a Brahe, para que ele pudesse realizar suas pesquisas. Lá, o astrônomo construiu o Uraniborg, uma espécie de instituto de pesquisa, talvez o primeiro de seu tipo, onde havia instrumentos astronômicos avançados para a época e que foram essenciais para a elaboração do sistema Tychonico. Após desavenças com o Rei Christian IV, que sucedeu Frederico II, Brahe abandonou o Uraniborg — que foi destruído — e se mudou para Praga, na República Checa.
Outro que conseguiu dinheiro para pesquisa através de meios no mínimo inusitados foi o escocês Alexander Graham Bell. Inventor e cientista, Bell, por volta de 1870, precisava de dinheiro para seguir com o desenvolvimento do “telégrafo harmônico”, o precursor do telefone. O primeiro a lhe conceder fundos para o projeto foi Gardiner Hubbard, pai de Mabel Hubbard. À época com 16 anos, Mabel era aluna de Bell na Escola de Oratória da Universidade de Boston e, três anos depois, eles se casaram. Contudo, como o dinheiro emprestado por Gardiner não fora o suficiente, Bell foi atrás de mais financiamento, e novamente o benfeitor estava próximo: Thomas A. Watson, seu assistente. Como compensação pelo investimento, Gardiner foi o primeiro presidente da Companhia Telefônica Bell, empresa criada em 1877 e que tornou-se na AT&T, gigante da telecomunicação mundial. A título de curiosidade, em 1888, Gardiner fundou a National Geographic Society, com o objetivo de “aumentar e difundir o conhecimento geográfico”.
Tão logo os portugueses desembarcaram no Brasil e eles começaram a escrever sobre o que de novo trazia a terra dos trópicos, distante dos padrões acadêmicos e científicos de hoje em dia. Eles tratavam essencialmente dos interesses econômicos de Portugal em relação à colônia, como a exploração dos recursos naturais e os lucros provenientes do processo. Até o começo do século XIX, as iniciativas de Portugal relacionadas à ciência e pesquisa no Brasil eram consequência de interesses pontuais, como uso e identificação de espécies da natureza, cartografia, geografia, mineração e astronomia. São fatores que contribuíram para a ínfima atividade científica no Brasil em seus três primeiros séculos:
- o alto número de analfabetismo
- o sistema educacional de nível elementar e ensinado exclusivamente por padres jesuítas
- a proibição de haver imprensa e de se publicar livros
Até o século XIX, poucos eram os registros de preocupação social em relação à ciência e sua difusão. Em 1772, o Marquês de Lavradio fundou a Academia Científica do Rio de Janeiro, cujo objetivo era dedicar-se aos estudos de química, física, história natural, medicina, farmácia e agricultura. A iniciativa não perdurou, fechando as portas em 1779. Depois, em 1786, surgiu a Sociedade Literária do Rio de Janeiro, que durou ainda menos, sendo fechada em 1794 após seus membros terem sido acusados e presos por conspiração a favor da independência do Brasil.
À época, os primeiros passos para a difusão científica foram dados por brasileiros da elite, enviados pela família à Europa para estudos no ensino superior. Ao retornar, ajudavam a espalhar as novas concepções científicas, além de teses e teorias que eram discutidas por lá. A situação só iria mudar em 1808, quando Dom João VI e a corte portuguesa chegaram ao Brasil fugindo do expansionismo francês comandado por Napoleão Bonaparte. A partir da mudança, os portos foram abertos ao comércio com outras nações, a imprensa teve autorização para existir, e foram criadas as primeiras instituições de ensino ligadas à ciência, como a Academia Real Militar, em 1810, e o Museu Nacional, em 1818.
A difusão científica tomou consistência com a publicação de textos de engenharia e medicina franceses traduzidos para o português por jornais da época, como A Gazeta do Rio de Janeiro, o Correio Brasiliense e O Patriota. Este, que foi publicado entre 1813 e 1814, colocou em suas páginas artigos que foram apresentados na Sociedade Literária, além de poemas de Silva Alvarenga com a temática da ciência. A crescente presença da ciência na sociedade, seja com estudos e descobertas ou com a divulgação em periódicos, parou no período que compreende a Independência do Brasil, em 1822, e o começo do Segundo Reinado, em 1840, quando declarou-se Dom Pedro II como imperador do Brasil.
Enquanto o Brasil se ajustava após o conturbado período político das regências, a Europa vivia uma nova agitação social graças aos desenvolvimentos proporcionados pela Segunda Revolução Industrial, que ocorrera na metade do século XIX. Havia uma enorme expectativa quanto ao progresso que o progresso da ciência poderia trazer. As famosas Exposições Universais, por exemplo, eram a manifestação da esperança alimentada pelo desenvolvimento tecnológico. À época, o nível das universidades era baixo, os graduandos eram exclusivamente engenheiros ou médicos, o analfabetismo era de 80% e a escravidão continuava a existir no Brasil. A pesquisa científica, portanto, concentrava-se entre os privilegiados brasileiros que, durante estudos no exterior, pesquisavam, além dos estrangeiros que aqui moravam ou estavam de passagem.
Durante o século XIX, a Biblioteca Nacional registrou a criação de 7.000 periódicos, dos quais 300 foram categorizados como “científico” ou “de ciência”. No entanto, boa parte era composto por notícias curtas e curiosidades, mas não deixa de ser um indicador de que existia interesse por ciência no país. A "distância" do Brasil para as novidades e descobertas científicas feitas na Europa diminui consideravelmente com a ligação telegráfica feita através de um cabo submarino conectando os dois continentes. Consequentemente, os jornais passaram a publicar notícias sobre as ciências com menos atraso em relação à publicação na Europa.Você também pode usar o botão de edição no canto superior direito de uma seção para editar seu conteúdo.